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Polícia prende pistoleiros que atacavam comunidades tradicionais no extremo-oeste da Bahia

Polícia prende pistoleiros que atacavam comunidades tradicionais no extremo-oeste da Bahia

Expectativa das comunidades é que os mandantes dos crimes, os fazendeiros que grilam terras no município de Corretina, também sejam punidos.

Por Fernanda Couzemenco/ O Eco

As comunidades de fundo e fecho de pasto de Correntina, no extremo oeste da Bahia, venceram mais uma batalha contra a invasão de seus territórios tradicionais por grandes empresários do agronegócio. Nesta terça-feira (11), equipes da Delegacia Territorial do município prenderam sete suspeitos de integrar um grupo responsável por ataques à sede da Associação Comunitária de Preservação Ambiental dos Pequenos Criadores do Fecho de Pasto de Cupim, Sumidor e Cabresto (ACPAC).

A ação policial atendeu ao cumprimento do mandado de busca e apreensão expedido para propriedades localizadas na zona rural de Correntina, numa investigação sobre conflitos agrários na região. No ato prisão, “os suspeitos foram autuados em flagrante por crime de porte e posse ilegal de armas de fogo e munições e associação criminosa”, informa a Polícia Civil da Bahia. Com eles, foram encontradas “13 armas longas, dois revólveres, uma pistola, uma réplica de pistola, munições de diversos calibres, armas brancas, coletes balísticos, rádios comunicadores e alguns assessórios”. As investigações, afirma a Polícia Civil, “continuam com o objetivo de identificar outros envolvidos nos crimes”.

A notícia das prisões foi recebida com um certo alívio pelos moradores. “Os pistoleiros das Fazendas Santa Tereza e Bandeirantes foram presos hoje pela Polícia Civil”, comunicou a ((o))eco o documentarista Marcos Rogério Beltrão dos Santos, integrante do Movimento Ambientalista Grande Sertão Veredas. “Tomara que pegue os peixes grandes também, os mandantes”, profetiza. “Estamos nessa expectativa, que os fazendeiros, os grileiros, possam pagar pelo que vêm fazendo contra as comunidades”.

O Movimento é uma das iniciativas locais de enfrentamento à violência crescente imposta pelo agronegócio do algodão, milho e soja contra as comundiades tradicionais de Corretina e outros municípios próximos, que compõe o pedaço baiano do chamado Matopiba, região formada por áreas de predominantemente de Cerrado localizadas também no Maranhão, Tocantins e Piauí, cuja denominação é um acrônimo formado pelas iniciais dos quatro estados. Os biomas Amazônico e da Caatinga também cobrem parte do Matopiba, mas cerca de 90% é de Cerrado.

As investigações que a Polícia Civil afirma estarem em andamento caminham juntamente com ações judiciais protocoladas pela Procuradoria Geral do Estado (PGE) da Bahia, que, por sua vez, derivam de ações discriminatórias solicitadas pelas comunidades e abertas pela Coordenação de Desenvolvimento Agrário (CDA) do governo do Estado em abril de 2021.

Na denúncia, as comunidades relatam – com documentos e outras evidências levantadas por entidades parceiras, como a Associação dos Advogados dos Trabalhadores Rurais (AATR) – um esquema de “grilagem verde”, em que os empresários averbaram as Reservas Legais de suas grandes fazendas em cima do território tradicional de uso comum das comunidades. O objetivo das denúncias é conseguir a regularização do território tradicional.

Uma das ações teve uma primeira decisão judicial favoráveis às comunidades no início de maio, quando o juiz Matheus Agenor Alves Santos determinou o bloqueio de 19 matrículas de imóveis localizados em Correntina.

Há outras duas ações discriminatórias abertas, sendo que uma delas também já foi judicializada pela PGE – referente a uma área de 28,11 mil hectares na comunidade de Fecho de Pasto Vereda da Felicidade (processo nº 8000165-77.2023.8.05.0069) – e outra ainda está na fase administrativa, na CDA.

Fernanda Couzemenco – Jornalista. Fonte: O Eco. Foto: Agência Brasil. Este artigo não representa a opinião da Revista e é de responsabilidade do autor.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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