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Portugal vale uma festa – sem ressaca!

Portugal vale uma festa – sem ressaca!

“Os socialistas tiveram uma vitória importantíssima”, escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia. “Mas a abstenção recorde mostra que uma parcela da população se sente abandonada.”

Por Paulo Moreira Leite/Brasil 247

António Costa comemora vitória na eleição de Portugal
António Costa comemora vitória na eleição de Portugal (Foto: REUTERS/Rafael Marchante)
Embora a coalizão chamada “Geringonça” tenha recebido uma inegável aprovação nas urnas,  a abstenção-recorde sinaliza um ambiente de frustração e descontentamento de uma parcela do eleitorado,  inclusive camadas que por tradição e necessidade destinam seu voto à — e que no domingo passado nem saíram de casa.Uma reportagem anterior de Mickael Correa, publicada pelo Monde Diplomatique (edição 146, setembro de 2019), ajuda a entender as ambiguidades desta situação.Desde 2015, quando os socialistas chegaram ao governo, foram tomadas medidas importantes para a recuperação do país. O salário mínimo se valorizou — subiu de 485 euros para 600 euros em 2019 –, o crescimento da economia atingiu o melhor nível em mais de uma década e o desemprego caiu de 12% para 6,3%.São avanços inegáveis, mas que não foram acompanhados de medidas sociais correspondentes.

Na vida social, um bom exemplo é o da moradia, que enfrenta um retrocesso alarmante. Durante o governo PDS, uma das exigências da Troika para liberar um empréstimo de 78 bilhões de euros consistiu na desregulamentação do mercado imobiliário. A medida transformou Portugal num paraíso de especuladores do mercado financeiro e turistas aptos a passar uma temporada no país.
Após um aumento de 3.000% no preço  do aluguel turístico, Lisboa tornou-se a capital europeia com maior número de residências Airbnb por habitante. A contrapartida são despejos em massa, inclusive com apoio policial, que transformaram a defesa da moradia popular numa causa cada vez mais relevante no país.

Ou o governo reeleito ontem se empenha em reconstruir as esperanças de uma imensa parcela de homens e mulheres que desta vez não se animaram a tomar o caminho das urnas no domingo. Ou o desânimo pode se transformar em desalento e, quem sabe, raiva. Aí, não haverá muito para se fazer.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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