Povo Ashaninka: Vapor de ervas como prática de cura

Vapor de ervas medicinais como método curativo – Uma prática Ashaninka

O uso do vapor de ervas medicinais como prática curativa é uma Ashaninka – ervas escolhidas pelas curandeiras, cantos ritualísticos e danças, uma fogueira acesa cujas pedras quentes são jogadas na panela de água com ervas: assim se produz o vapor curativo de que falamos hoje…

Por Branco/Greenme

O Ashaninka vive na Amazônia peruana, região conhecida como Selva Central, próximo ao povoado de Pichanaki onde foi montada a “Aldea de la Salud”, um hospital indígena atendido por xamãs Ashaninka, com diversas técnicas ancestrais de cura.

São 17 curandeiros nativos que se juntaram na Associação de Sábios Ashaninkas Antyabiarite para atender aos pacientes em 5 cabanas – algumas das doenças que são tratadas por esses médicos não tradicionais não têm cura reconhecida pela medicina oficial e nem sequer qualquer explicação científica.

A cura pela vaporização ou “vaporeo”

No vídeo abaixo você pode ver um dos rituais de cura Ashaninka, pela vaporização de ervas, cuja cerimônia é dirigida por uma menina de 11 anos, Mircyla, que já é considerada habilitada pelo seu povo. As curas por vaporização são, em geral, realizadas por .

Na “Aldea de la Salud” quem realiza as curas por vapor de ervas é a senhora Eugenia Yolanda Paqui (52) e que já tem mais de 27 anos de prática. O “vaporeo”, nome em castelhano pelo qual se conhece essa prática curativa, consiste em um ritual onde se dizem orações no idioma ashaninka e, entre canto e canto, se colocam as pedras aquecidas na fogueira dentro da panela com água e ervas especialmente escolhidas.

O paciente, que já se encontra sem roupas e coberto por uma túnica ampla, será rezado e envolto nos vapores de ervas quentes (coloca-se a panela por debaixo da túnica que ele usa e que funciona como um ambiente de sauna para o corpo. O intenso vapor de ervas, acreditam os Ashaninka, administrado desta maneira, produz a cura necessária.

Não só pacientes nativos acudem aos tratamentos ministrados pelos Ashaninka. Muitas outras e diversas práticas curativas (cremes e poções preparados com ervas medicinais das matas amazônicas) são usadas pelos Ashaninka que usam a ayauaska como seu veículo de expansão de consciência.

O povo Ashaninka existe no Acre e no Peru, na mesma região amazônica entre fronteiras. São, no total, uma população de 100 mil (no Peru, em 2007, o censo acusava 97 mil pessoas de origem Ashaninka) que têm uma  e idioma comum, o aruak.

A preparação de um pajé (xamã) é um processo continuado, permanente, que dura a inteira da pessoa que escolheu este caminho.

Os Ashaninka são um dos mais pressionados, atualmente, pelo avanço civilizatório da nossa cultura branca – a destruição das matas, a contaminação das águas dos rios, o extermínio dos que são a base alimentar deste povo e, principalmente, a contaminação das tribos pelas doenças de branco, para as quais, muitas vezes a medicina indígena ainda não tem como chegar à de salvar o paciente, são alguns dos problemas que afligem a este e a muitos outros povos .

Fonte: Greenme

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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