Pra onde será que eu vou, quando essa pandemia passar?

 

Pra onde será que eu vou, quando essa pandemia passar?

Depois dessas semanas todas de longa e necessária quarentena, às vezes me pego pensando sobre pra onde vou quando o do distanciamento social passar. Imagino que vou acabar indo mesmo é pra Chapada dos Veadeiros, esse lugar mágico do , onde o resistente Kalunga fez do território seu espaço de vivência.

Por Zezé Weiss

Começando pelo mais distante, vou pro Quilombo Riachão, no município de Monte Alegre de Goiás, visitar Procópia dos Santos Rosa, matriarca do povo Kalunga. Daqui de Formosa, são 150 km até Teresina de Goiás, depois mais 22 km rumo Monte Alegre, depois mais quatros horas subindo e descendo serra, até encontrar a casinha branca onde Iaiá Procópia montou o seu museu em vida. “O meu museu eu quero do meu jeito, então faço eu mesma,” disse Procópia, toda serelepe no dia da inauguração, 7 de janeiro deste ano da graça de 2020.

Depois, com tempo bom, é voltar pra Teresina e tomar o rumo de Cavalcante, dormir na cidade e acordar bem cedinho (essa é a parte mais difícil) para um banho na Santa Bárbara, no meu sentir a Cachoeira mais linda de toda a Chapada dos Veadeiros. Almoço no Quilombo do Engenho, que é onde fica a Santa Bárbara, uns bons dois quilômetros puxados de caminhada antes da caseira, servida com fartura, nos restaurantes da .

Na volta, cruzar a rua central de Alto Paraíso de Goiás com destino ao povoado do Moinho, chegar antes da sesta de , por volta das três da tarde, pra comprar meu sabão de tingui, o melhor do planeta, e dar um abraço apertado nessa minha amiga dola e herveira, que já fez quase 300 partos e já curou meio mundo com suas poções milagrosas, feitas com as ervas, flores e frutos do Cerrado.

Visita feita, só por desencargo de consciência, uma parada rápida na área urbana de Alto Paraíso  para uma benzeção com dona Páscoa, essa preta linda de reza forte e mãos milagrosas, capaz de botar no prumo qualquer espinhela caída. Pronto, depois dessa viagem de afetos, acho que nem vou precisar passar no São Jorge, esse outro povoado de mil e poucas almas, cerca de 22 km do centro da cidade, onde é impossível não ser feliz na vida.

zeze 1Zezé Weiss – Jornalista Socioambiental
@zezeweiss

 

 


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Réquiem para o Cerrado – O Simbólico e o Real na Terra das Plantas Tortas

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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