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Queimadas: Povo Xavante enfrenta o fogo

Queimadas: Povo Xavante enfrenta o fogo

: Povo Xavante enfrenta o fogo

Ano passado (2020), as queimadas foram piores, porém eles tinham o auxílio da brigada Antifascista. Com o COVID, esta ajuda é uma incógnita…

Por Laís Vitória Cunha de Aguiar / Jornalistas Livres

“Antigamente não havia muitas queimadas, só havia queimada pra fazer caçar, casamento, ritual…Antigamente a queimada pra fazer caçar tinha limite. Hoje tem muitas queimadas, muita destruição do (…) E nós somos o povo do cerrado.” -Libêncio Xavante.

A rodovia (BR-70), no Mato Grosso, perpassa o território do povo Xavante (Sangradouro), o que facilita para os fazendeiros invadirem as terras e botarem fogo.

Moradores carregam corpo de animal morto no incêdio (2020). Por: Libêncio Xavante
Moradores carregam de morto no incêdio (2020). Por: Libêncio Xavante

Na aldeia Abelhinha, eles estão tentando criar uma brigada para combater o fogo. De acordo com moradores, as queimadas aumentaram exponencialmente ano passado, causando crises respiratórias em crianças e idosos.

Com o sistema de em crise por causa do Covid, seria extremamente perigoso levar as crianças e idosos até os hospitais, e por isso estão ainda mais preocupados com a questão das queimadas.

Eles não têm acesso aos medicamentos normalmente utilizados para o tratamento de doenças respiratórias, e com as queimadas não conseguem achar as plantas medicinais que utilizariam no tratamento.

Cerrado em fogo. (2020) Crédito: Libêncio Xavante
Cerrado em fogo. (2020) Crédito: Libêncio Xavante

O período de queimadas vai de julho até setembro, e por isso eles estão tentando se preparar o quanto antes. Todavia, não tem dinheiro para comprar os equipamentos necessários. Assim, o objetivo é criar uma brigada que fique responsável por cuidar do fogo cada vez que ele ocorrer.

Ano passado a brigada Antifascista, de , havia colaborado com os moradores da região. A questão é que se eles não forem vacinados (os membros da brigada), não poderão ir até Sangradouro e os indígenas não terão ninguém para ajudá-los e nem o equipamento.

Eles estão totalmente sozinhos, e mesmo sabendo como utilizar os instrumentos necessários para acabar com as queimadas, sem o equipamento não poderão fazer nada. Por isso, apesar do desejo de proteger sua terra, não estão próximos de consegui-lo.

 

Fonte: Jornalistas Livres

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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