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Kunumi MC: Em versos, rapper Guarani defende direitos indígenas

Kunumi MC: Em versos, rapper Guarani defende direitos

Da Revista Cult

“Nunca desistir/ Tamo aqui na luta sempre alto astral/ Que é tudo por respeito/ Queremos mais direito” canta Kunumi MC na primeira estrofe da música Nunca desistir. A canção, que mostra o tom político presente em todo o seu , faz parte do álbum de estreia do rapper guarani, My blood is red, lançado na última sexta (2), em São Paulo.

Com apenas 16 anos – Kunumi significa jovem em guarani -, Werá Jeguaka Mirim quer fazer do rap um instrumento de luta pelos direitos dos indígenas. “O rap é uma cultura de defesa e resistência, então uso o rap para protestar e batalhar. E com ele dá para falar bem das coisas que estão acontecendo atualmente, as violações de , e essa que está aparecendo agora”, diz.

Kunumi rima sobre respeito aos povos indígenas, o valor da educação, a urgência da demarcação de terras e a preservação da . Recorrendo às imagens da natureza e dos animais, escrevia poesia, e quando começou a ouvir rap, aos 9 anos, sob a influência de Sabotage, SNJ e Brô MC’s, percebeu que aquelas palavras poderiam virar música.

“Tem vários indígenas com talento, mas que não usam porque não têm a escrita na mente. Então é muito importante ter literatura na aldeia, porque vivemos no século 21 e ler e escrever é importante para entender o genocídio que aconteceu no passado e ainda acontece”, afirma. Com Criolo, ele compôs a música , ar, mar, ainda sem previsão de lançamento.

Quando não está cantando ou aparecendo na mídia (ele ficou conhecido em 2014 ao estender em campo, na Copa do Mundo, uma faixa pedindo a demarcação de terras indígenas), o rapper leva a comum de sua tribo. Frequenta o segundo ano na indígena, localizada em sua aldeia, participa dos cânticos religiosos diários, fuma o cachimbo petingua. Seguindo a tradição guarani, que já o considera um adulto aos 16 anos, casou no ano passado e cuida de sua mulher e do filho de dois meses.

O Kunumi chegou

O rapper, que nasceu na aldeia Krukutu, na região de Parelheiros, no extremo sul da cidade de São Paulo, começou a se envolver no universo artístico desde muito jovem, por influência do pai, o escritor Olivio Jekupé. Com 16 livros publicados, entre literatura infantil, poesia e contos indígenas, ele ensinou o filho desde pequeno a se expressar por meio de linguagens nas quais “os brancos prestam atenção”.

“Eu sempre falo pra ele que a poesia que ele escreve é muito importante porque é uma forma de conscientizar a que temos direito, porque muitos no Brasil nos veem como invasores, mas na verdade somos os povos originários, os donos dessas terras. E a literatura escrita tem mais influência na sociedade branca”, relata o pai. “A gente percebe que no rap já tem uma crítica em sua própria forma”.

Antes de estrear na música, Kunumi publicou dois livros infantis, o autobiográfico Kunumi guarani (Panda books, 2014), e Contos dos curumins guaranis (FTD, 2014), com relatos das orais guarani. No rap, acredita que sofre críticas de todos os lados. “Alguns falam que a gente não pode cantar rap porque estamos perdendo a cultura, às vezes até os indígenas pensam isso, mas cantando rap a gente pode salvar a cultura”, diz. Grande parte de seus raps misturam versos em português e guarani, evidenciando essa tentativa.

Para ele, o gênero pode ser uma das formas de mostrar o potencial artístico dos ameríndios. “Muita gente fala que a gente não trabalha, que foi feito só pra morrer, então temos que mostrar nossa capacidade de ser ator, cantor, escritor, músico, artista, desenhista, diretor de filme”, afirma. “Se a gente usa essas tecnologias é porque é a forma que tem para nos manifestarmos, batalharmos, tentar trazer para o mundo que os indígenas têm a capacidade de pensar e criar.”

Fonte desta matéria: https://revistacult.uol.com.br


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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