Rede Cerrado: Assembleia Geral reafirma compromisso com o Bioma e com os povos cerratenses  

Rede Cerrado reafirma compromisso com o Bioma e seus povos – 

Assembleia Geral reuniu cerca de 30 entidades associadas à Rede Cerrado em Brasília para debater novas estratégias e ações conjuntas em defesa do Bioma e seus povos 

União de esforços e saberes, resistência dos povos, movimento, esperança, partilha, defesa e gratidão. Essas foram algumas das palavras e sentimentos que permearam a Assembleia Geral da Rede Cerrado, que ocorreu em Brasília (DF), nos últimos dias 03 e 04 de maio. A atividade reuniu cerca de 50 pessoas representantes de 30 entidades associadas à Rede Cerrado de todo o Brasil. O principal objetivo foi traçar estratégias e ações conjuntas para intensificar a atuação da Rede em defesa do Bioma, de seus povos e comunidades tradicionais.

Durante a abertura do evento, Maria do Socorro Teixeira Lima, mais conhecida como dona Socorro, do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB) e atual coordenadora-geral da Rede Cerrado, lembrou que essa foi a primeira assembleia realizada após a eleição da nova coordenação, que assumiu os trabalhos em 2016. A expectativa, com a retomada das atividades, para ela, foi superada. “A gente está confiante que a partir dessa assembleia a Rede Cerrado vai retomar suas lutas de apoio e de defesa do Bioma com ainda mais força e unidade”.

Rede Cerrado 4

Dona Socorro ainda lembrou a importância do Cerrado para a manutenção dos ciclos hídricos. “A Amazônia faz chover. Mas, quem estoca também é importante. E aí, eu estou falando do Cerrado. A chuva chega, mas sem a natureza em pé não tem chuva, sem chuva não tem água e se não tem água não tem vida”, destacou Maria do Socorro.

Já para Rodrigo Noleto, do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) e atual coordenador administrativo da Rede Cerrado, lembrou que nesta nova fase, dois projetos ajudarão a Rede Cerrado, principalmente, no âmbito do fortalecimento institucional e da incidência política. “Durante a assembleia discutimos formas de participação e a retomada de alguns espaços importantes. A gente quer trazer o Cerrado como um Bioma fundamental que está indo embora e está cada vez mais frágil. Não somente suas organizações, mas seus povos e sua terra. Está tudo desaparecendo”, alertou Noleto.

A Assembleia Geral da Rede Cerrado ocorreu em um período em que o Bioma sofre graves ameaças, sendo substituído rapidamente por extensas áreas de monoculturas e pecuária. A devastação do Cerrado já chega a 52% do território (superando, em proporção, o desmatamento da Amazônia) e isso está comprometendo nascentes, rios, riachos, além das culturas e práticas sustentáveis de conservação dos povos e das comunidades tradicionais que ali vivem. O contexto reforçado durante todo o encontro fez com que a Rede Cerrado reafirmasse seu compromisso em defesa do Bioma, dos seus povos e comunidades tradicionais.

Compromisso que fez Lucely Morais Pio, da Associação Pacari e representante quilombola na Rede Cerrado, recordar o encanto que sentiu quando conheceu a Rede Cerrado. “Uma luta que temos dentro das comunidades quilombolas é manter o Cerrado em pé. E isso é uma bandeira que a Rede defende”. Ela que acompanha a Rede Cerrado desde 1999, ainda disse que a entidade representa um local de encontro e, mais que isso, de resgate de culturas. “Tem muita comunidade que está perdendo sua história e a Rede Cerrado vem colocar força para gente se encontrar e se fortalecer”, salientou a quilombola com um sentimento fortalecido para a continuidade da caminhada.

O envolvimento foi compartilhado por Luís Carrazza, da Central do Cerrado. “A gente percebe que pela resposta à convocação, pela presença das pessoas nesta assembleia, pela disposição e pelo entusiasmo, que a Rede faz sentido para todos nós”. Para ele, a Rede Cerrado é muito mais que um espaço político e de incidência política. Ela é também um lugar de trocas de experiências e de relacionamento com outras organizações e pessoas que defendem o Cerrado, seus povos e comunidades tradicionais. “A gente tem um conjunto de riquezas culturais e de saberes que faz com que essa integração seja incrível”.

Já Irene Maria dos Santos, do Instituto Brasil Central, que acompanha a Rede Cerrado desde a sua criação, em 1992, destacou a grande relevância da Rede por ser, em um único espaço, uma articulação, uma mobilização e um intercâmbio de experiências. “Se a gente, enquanto sociedade civil, não se organiza, a gente não tem possibilidade de avançar em uma política pública de desenvolvimento sustentável para o Cerrado. A gente precisa desse lugar!”.

Dentre os encaminhamentos que resultaram da Assembleia Geral, os principais deles foram: a criação de grupos de trabalhos temáticos para fortalecer os debates em diferentes instâncias de incidência e a formação de uma rede de comunicadoras e comunicadores composta por membros das entidades associadas à Rede Cerrado. Além disso, foram definidas atividades como encontros de formação e oficinas temáticas.

Rede Cerrado 1

Conheça os projetos em execução pela Rede Cerrado

Dois projetos subsidiarão as atividades da Rede até o ano de 2019: o Projeto de Apoio para o Fortalecimento Institucional da Rede Cerrado, com recursos do Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos (CEPF, na sigla em inglês para Critical Ecosystem Partnership Fund), e o projeto junto ao Programa DGM/FIP (Dedicated Grant Mechanism for Indigenous People and Local Communities – Fundo de Investimento Florestal), do Banco Mundial.

Serão, a princípio, dois anos dedicados a ações e atividades que visam a promoção de frentes como: a mobilização e o fortalecimento institucional; a gestão de informações e comunicação; e a articulação de políticas da Rede Cerrado junto aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

Reportagem: Thays Puzzi / Rede Cerrado Foto: Méle Dornelas / ISPN

ISPN
18c795e3a4cfa300f0bcd02ea6da4456

ANOTE: 

Este site é mantido com a venda de nossas camisetas. É também com a venda de camisetas que apoiamos a luta de entidades e movimentos sociais Brasil afora. Ao comprar uma delas, você fortalece um veículo de comunicação independente, você investe na Resistência. Visite nossa Loja Solidária: http://xapuri.info/loja-solidaria. Em Formosa, encomendas com Geovana: 61 9 9352 9191. Em Brasília, com Janaina: 61 9 9611 6826.

Camiseta Paulo Freire: http://xapuri.info/produto/camiseta-paulo-freire/

Post Paulo Freire Loja Solidária

 

Deixe seu comentário

UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

PARCERIAS

CONTATO

logo xapuri

REVISTA

💚 Apoie a Revista Xapuri

Contribua com qualquer valor e ajude a manter vivo o jornalismo socioambiental independente.

A chave Pix será copiada automaticamente.
Depois é só abrir seu banco, escolher Pix com chave (e-mail), colar a chave e digitar o valor escolhido.