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Ensinar e aprender: Atos de resistência

Resposta Ao Ministro Da Educação Milton Ribeiro

Resposta Ao Ministro Da Milton Ribeiro

RESPOSTA AO MINISTRO DA EDUCAÇÃO MILTON RIBEIRO, POR TAL DECLARAÇÃO:

 
“Hoje, ser um é ter quase que uma declaração de que a pessoa não conseguiu fazer outra coisa”.

“Caro Ministro, sempre sonhei ser professora. Demorei muito para realizar meu sonho, porque antes, foi necessário que eu ingressasse no mercado de e interrompesse a graduação em Pedagogia. Só muitos anos depois tive condições de retornar aos estudos dessa vez, para cursar Letras, sempre na área da educação, porque muito me orgulha a importância social desse trabalho. Sou também , mas é no magistério que exerço minha função mais importante, mais nobre.
Já sobre ser Ministro deste governo, considero ser uma declaração de que a pessoa não conseguiu fazer nada de nobre na . Ser Ministro deste governo é uma declaração de que sequer, a pessoa tem uma biografia a zelar. Ser ministro deste governo é um atestado de incompetência em todas as áreas da vida e em todas as dimensões humanas. Ser Ministro deste governo é um atestado incontestável de fracasso absoluto!
Ministro, eu influenciei positivamente meus filhos; uma Mestra em Psicologia e um graduando em Engenharia que também foi meu aluno. Eu oriento mais de quatrocentos alunos, ainda que remotamente, durante a pandemia, porque nunca parei de trabalhar. E o senhor, o que faz, além de dar declarações desastrosas à imprensa?
Acaso o senhor ajudou no plano de contingência dos estados para o retorno às aulas presenciais durante a pandemia? Quais foram suas ações para o enfrentamento desse, que é um dos momentos mais dramáticos da história recente da ? Qual sua contribuição, Ministro? Nenhuma!
Eu entendo perfeitamente sua linha de raciocínio quando afirma que aqueles que escolheram o magistério, o fizeram por não conseguirem exercer outra ocupação. Na sua lógica torta, só tem valor a profissão bem remunerada. A sua lógica é o dinheiro. Sim, o magistério brasileiro é a força de trabalho, com curso superior, com menor neste país. Nem todos escolhem seu ofício por dinheiro. Há os que o escolhem por e decidem continuar nele para lutar. Para lutar contra embustes como o senhor, contra as más condições de trabalho e salário.
Ministro, nós venceremos! Em muito menos de um par de anos o senhor não será lembrado, mas nós resistiremos! Eu resistirei! E ser professor no ou em qualquer outra parte do , continuará sendo uma das profissões mais nobres a qual um ser humano poderá ter a honra de dedicar seu tempo e a sua vida!
Recolha-se a sua insignificância histórica, senhor Ministro!
(“O senhor passará e nós passarinho!).”
Márcia Friggi

Fonte: WhatsApp

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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