Retrocesso ambiental pode intensificar o desaparecimento das abelhas
Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil, elaborado no início do ano pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) mostrou que mais de 200espécies utilizadas na agricultura do país dependem dos polinizadores.
Besouros, borboletas, mariposas, aves, vespas, moscas, morcegos e percevejos possuem potencial polinizador, mas as abelhas são as principais responsáveis por esse trabalho. Correspondem a 66%, segundo o relatório. Ao contrário do que muita gente pensa, não existe somente a abelha estrangeira (europeia), aquela, com listras pretas e amarelas e um enorme ferrão. Essa é apenas uma entre as mais de 20 mil espécies.
Só no Brasil, existem mais de 300 tipos de abelhas nativas melíponas sem ferrão. Elas povoam diversos biomas do território e formam seus ninhos em buracos ocos de troncos das árvores. Mas esses animais estão ameaçados devido ao uso de agrotóxicos e sua sobrevivência depende da conscientização e da preservação das matas brasileiras.
No século passado, o físico alemão Albert Einstein previu que a extinção das abelhas causaria danos catastróficos no meio ambiente e o ser humano teria apenas mais quatro anos de vida. Isso porque elas sobrevoam culturas agrícolas em busca do seu alimento, o pólen, colaborando para a reprodução de frutas, legumes e grãos, garantindo assim, a biodiversidade. O alerta foi feito e diversos estudos também comprovaram que, realmente, esses insetos desempenham um papel crucial para o equilíbrio dos ecossistemas. Porém, nem isso têm freado a morte das abelhas em grande escala.
Nos últimos três meses, segundo levantamento da Agência Pública e Repórter Brasil, apicultores encontraram mais de meio bilhão de abelhas mortas em quatro estados brasileiros. Foram 400 milhões no Rio Grande do Sul, 7 milhões em São Paulo, 50 milhões em Santa Catarina e 45 milhões em Mato Grosso do Sul. Grande parte dessa devastação se dá devido ao uso inadequado de agrotóxicos.
As pulverizações dos pesticidas afetam o sistema nervoso central dos animais, resultando em paralisia e morte. Além de reduzir drasticamente as taxas de reprodução. A monocultura também acaba com a diversidade de fontes alimentares para as abelhas, diminuindo os
recursos disponíveis para coleta de pólen.
O Brasil está entre os países que mais usam agrotóxicos e, para piorar ainda mais essa situação, o presidente Jair Bolsonaro acelerou a aprovação de 262 novos tipos de pesticidas, incluindo alguns com substâncias proibidas na União Europeia. Com esse tipo de política ambiental adotada, infelizmente, a tendência é que o sumiço desses insetos chegue ao ápice nos próximos períodos.
No DF, o sítio Geranium, localizado no Núcleo Rural de Taguatinga possui um meliponário que realiza um amplo trabalho de conscientização. O responsável Heráclito Sette explica que lá são cultivadas espécies de abelhas melíponas como uruçu, mandaçaia, jataí e muitas outras.
O objetivo do local é promover a educação ambiental, multiplicar, reintegrar e alertar a sociedade sobre a existência e importância desses animais que fazem parte do bioma, mas estão sendo desalojados e extintos pela população. “Sem dúvida, as abelhas possuem um importante papel, pois por meio da polinização realizada é possível garantir a biodiversidade.
É fundamental diminuirmos o uso de agrotóxicos e utilizar pesticidas corretamente. Atualmente, assim como ocorre com medicamentos, os agrotóxicos não são um só, são uma composição. Combinados, os efeitos desses venenos causam doenças terríveis nas pessoas, como má formação, doença mental, depressão, Alzheimer e muitas outras.
Os pesticidas acabam não apenas com as abelhas, mas com toda a micro vida no local em que é pulverizado. Essas espécies estão ameaçadas e nosso objetivo é preservá-las, pois elas que garantem a reprodução e o ciclo da vida. É preciso adotar medidas para cuidar de lugares onde os polinizadores podem ser menos afetados”, alertou Sette.