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Ricardo Salles vira réu

Ricardo Salles vira réu em processo que investiga suposto contrabando de madeira

Ricardo Salles vira réu em processo que investiga suposto contrabando de madeira. Além do ex-ministro do Meio Ambiente, foram indiciados também o ex-presidente do Ibama, Eduardo Bim, servidores públicos e representantes do setor madeireiro.

Por Duda Menegassi/O Eco

Depois de defender publicamente os interesses madeireiros, Ricardo Salles, agora é réu de um processo que investiga a participação do ex-ministro do Meio Ambiente em esquema para facilitar exportação ilegal de madeira do Brasil. A denúncia foi feita pelo Ministério Público Federal (MPF) e recebida nesta segunda-feira (28) pela 4ª Vara Federal da Seção Judiciária do Estado do Pará.

Foram denunciados ao todo 22 pessoas que supostamente participavam do esquema, por corrupção passiva, crimes contra a flora e envolvimento com organização criminosa. Além de Salles, foram indiciados o ex-presidente do Ibama, Eduardo Bim, servidores públicos e nomes que ocuparam cargos de confiança no órgão ambiental durante o governo de Bolsonaro, assim como representantes de madeireiras que teriam sido beneficiadas pelo esquema.

A investigação teve como origem a Operação Akuanduba, da Polícia Federal, deflagrada em maio de 2021 para apurar crimes praticados por agentes públicos e empresários do ramo madeireiro. 

Segundo a denúncia do MPF, “servidores do IBAMA, bem como ocupantes de postos de chefia e direção da autarquia ambiental, emitiriam certidões e ofícios em desacordo com as orientações técnicas da equipe da instituição, com o fito de liberar madeira apreendida nos Estados Unidos”.

O MPF aponta uma série de apreensões de madeira de origem brasileira nos Estados Unidos, onde foram retidas pela ausência da documentação necessária. As empresas responsáveis pelas cargas apreendidas buscaram então apoio junto a funcionários públicos do Ibama – entre eles o superintendente do Ibama no Pará à época, Walter Mendes Magalhães, também indiciado pelo MPF – que emitiram documentos sem validade pedindo a liberação da madeira, apesar da falta de documento que comprovasse a origem legal da carga. Posteriormente, o próprio Salles se envolveu diretamente no caso, saindo em defesa das madeireiras.

“O núcleo dos agentes públicos compôs organização criminosa estruturada, com divisão de funções, tendo praticado diversos crimes de caráter transnacional (facilitação ao contrabando, através do “despacho interpretativo”). Além da facilitação ao contrabando, praticaram prevaricação, advocacia administrativa, corrupção passiva, obstaram a fiscalização ambiental, violaram sigilo funcional e embaraçaram a investigação de infrações penais envolvendo organizações criminosas”, descreve a denúncia do Ministério Público.

O “despacho interpretativo” citado pelo MPF refere-se ao Despacho 7036900/2020, assinado pelo então presidente do Ibama, Eduardo Bim, em fevereiro de 2020 que eliminava a necessidade de autorização específica para exportação de madeira de origem nativa em geral e afrouxava as regras para exportação de madeira

Principal réu do processo, Salles solicitou ao juiz que o processo tramitasse em sigilo, mas foi negado. Apesar de exercer atualmente um mandato como deputado federal, o que garantiria foro privilegiado a Ricardo Salles, o processo não será por instância superior já que investiga delitos supostamente cometidos durante seu exercício enquanto ministro. Salles foi exonerado em junho de 2021, como consequência do inquérito.

Duda MenegassiJornalista. Fonte: O Eco. Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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