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Rio Negro

RIO NEGRO (DA AMAZÔNIA)

– Proteger e conservar a é uma questão de sobrevivência, Em forma de poesia, podemos conhecer um pouco mais sobre a fauna, flora, animais e vegetação e também todos os encantos da

Rio Negro – Por Rogel Samuel (1943)

Na terra em que eu nasci, desliza um rio
ingente, caudaloso,
porém triste e sombrio;
como noite sem astros, tenebroso;
oual negra serpe, sonolento e frio.

Parece um mar de tinta, escuro e feio:
nunca um raio de sol, vitorioso
penetrou-lhe no seio;
no seio, em cuja profundeza enorme,
coberta de negror,
habitam monstros legendários, dorme
toda a legião fantástica do horror!

Mas, dum e doutro lado,
nas margens, como o Quadro é diferente!
Sob o dossel daquele céu ridente
dos climas do equador,
há tanta vida, tanta,
ó céus! e há tanto amor!

Desde que no horizonte o sol é nado
até que expira o dia,
é toda a voz da natureza um brado
imenso de alegria;
e voa aquele sussurrar de festas,
vibrante de ventura,
desde o seio profundo das florestas
até as praias que cegam de brancura!

Mas o rio letal,
como estagnado e morto,
arrasta entre o pomposo festival
lentamente, o seu manto perenal
de luto e desconforto!

Passa – e como que a morte tem no seio!
Passa – tão triste e escuro, que disséreis,
vendo-o, que ele das lágrimas estéreis
de Satanás proveio;
ou que ficou, do primitivo dia,
quando ao – “faça-se!” – a luz raiou no espaço,
esquecido, da terra no regaço,
um farrapo do caos que se extinguia!

Para acordá-lo, a onça dá rugidos
Que os bosques ouvem de terror transidos!
Para alegrá-lo, o pássaro levanta
voz com Que a própria penha se quebranta!

Das flores o turíbulo suspenso
manda-lhe eflúvios de perene incenso!

Mas debalde rugis, brutos ferozes!
Mas debalde cantais, formosas aves!
Mas debalde incensais, mimosas flores!
Nem cânticos suaves,
nem mágicos olores,
nem temerosas vozes
o alegrarão jamais!… Para a tristeza
atroz, profunda, imensa, que o devora,
nem todo o rir que alegra a natureza!
nem toda a luz com que se enfeita a aurora!

Ó meu rio natal!
Quanto, oh! Quanto eu pareço-me contigo!
eu que no fundo do meu ser abrigo
uma noite escuríssima e fatal!
Como tu, sob um céu puro e risonho,
entre o riso, o prazer, o gozo e a calma,
passo entregue aos fantasmas do meu sonho,
e às trevas de minha alma!

Rio Negro (da Amazônia)
Floresta inundada ao longo do Rio Negro, , ,

ROGEL SAMUEL 

Rogel Samuel, escritor, ensaísta e crítico literário natural de Manaus, tece em seu poema “Rio Negro” uma complexa narrativa poética que se desenrola ao longo das margens do Rio Negro, um dos mais imponentes afluentes do . Esse rio, famoso por suas águas escuras e misteriosas, serve como pano de fundo e inspiração para uma reflexão profunda sobre a relação entre a natureza e o eu lírico.

O Rio Negro, reconhecido por ser o mais extenso rio de águas negras do mundo, é cercado por uma paisagem de beleza única e majestosa. No poema, o eu lírico se detém para observar e descrever minuciosamente tudo o que se passa ao seu redor, tanto na terra quanto nas águas. Sua observação atenta revela um cenário repleto de vida, onde a fauna local desempenha um papel central. Os animais, descritos de maneira vibrante, são apresentados como símbolos de vitalidade e alegria, em contraste com a imagem sombria do rio.

Essa dualidade entre a vivacidade da fauna e a obscuridade das águas reflete uma tensão constante no poema. O Rio Negro, com suas águas escuras e profundas, é retratado como um lugar cheio de mistérios, um espaço onde o desconhecido e o imprevisível reinam. Essa atmosfera enigmática provoca no eu lírico uma identificação com o rio, especialmente em relação ao seu caráter melancólico.

À medida que as águas do Rio Negro avançam e começam a dominar as margens, o eu lírico se vê refletido nessa invasão silenciosa e gradual. O rio, com sua presença imponente, simboliza uma força natural irresistível, que inevitavelmente se conecta à introspecção do sujeito poético. A correnteza que arrasta e transforma a paisagem ao seu redor é comparada à própria condição humana, marcada por uma tristeza profunda e uma sensação de inevitabilidade diante dos mistérios da existência.

No poema, Rogel Samuel constrói uma narrativa que vai além da simples descrição de uma paisagem natural. Ele utiliza o Rio Negro como uma metáfora para explorar questões existenciais, refletindo sobre a relação do homem com a natureza e consigo mesmo. A escuridão das águas, assim como os mistérios que elas escondem, torna-se um espelho para os sentimentos de melancolia e introspecção do eu lírico, criando uma obra de profunda ressonância emocional.

Fonte: Cultura Genial

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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