O que fazer para romper a cultura histórica da apatia?
Brasil: país das contradições em virtude das realizações tardias de vários fatores sociais que poderiam influenciar na formação política do seu povo. A escravidão só foi abolida em 1888; a imprensa só chega em 1808 com D. João VI; a República foi proclamada em 1889.
Talvez isso ocorra pela ausência de efetiva participação popular, que impulsionasse a sociedade em direção às conquistas daqueles direitos. Assim, os eventos mais importantes da história do Brasil vieram sempre por cima, dominados pelas elites e oligarquias.
Sobre a ausência popular nos momentos históricos mais importantes do nosso país, Sérgio Murilo de Carvalho, em Os bestializados: Rio de Janeiro a República que não foi, cita Aristides Lobo, o propagandista da República, quando este diz que o povo, pelo ideário republicano, deveria ter sido o protagonista dos acontecimentos, porém, assistira a tudo bestializado, sem compreender o que se passava.
Segundo Emir Sader, o Brasil, em um período muito curto passou por transformações de grande monta. Em poucas décadas tivemos uma ditadura militar que durou 21 anos e mais 12 anos de governos neoliberais e completou, em 2016, 13 anos de governos pós-neoliberais. São mudanças muito radicais, num espaço relativamente curto de tempo.
O golpe desfechado contra o governo liderado pelo PT, que representava uma ruptura com décadas de políticas voltadas, particularmente, para o projeto neoliberal do Estado mínimo, e uma inflexão marcante na evolução da formação social brasileira.
Com os avanços obtidos nos governos democráticos e populares era de esperar uma firme reação popular em defesa das conquistas conseguidas. Porém, o que vemos é a mesma inércia que marcou o decorrer da história política brasileira. Se quisermos mudar o curso dos acontecimentos em 2018, não podemos deixar-nos levar pela contracorrente da elite dominante que se apossou dos poderes e entregam de bandeja aos grupos econômicos nacionais e internacionais o que nos resta de soberania nacional.
Pensar em eleger Lula com uma visão messiânica de salvador da pátria não nos levará a derrotar o poderoso inimigo. Será preciso uma ampla frente, um novo pacto de radicalização popular, que possa afastar do caminho as ameaças de hoje e futuras, que não se reduzem somente às consequências do neoliberalismo. Mas ao aprofundamento da política conservadora, que busca destruir as estruturas sociais e políticas do país.
Trajano Jardim
Jornalista e Professor Universitário