Formosa: Rua Visconde de Porto Seguro, antiga rua das Flores
Não há em Formosa quem não passe em um momento ou outro pela Rua Visconde de Porto Seguro, que antes se chamou rua das Flores.
Por Zezé Weiss
Embora seja um espaço extremamente importante para a economia e a vida social do município, são raros os registros sobre a história da “rua Visconde.”
Um das raras exceções encontra-se no livro “Álbum de Formosa”, obra póstuma do escritor formosense Alfredo A. Saad, falecido em 2011, publicado pela família em 2013:
“Embora aberta e possivelmente habitada desde o século 18, a rua Visconde de Porto Seguro, oficialmente, recebeu esse nome somente em 1877.
Era apenas um caminho direto, mais tarde denominado rua das Flores, entre o largo da Bica e a rua dos Crioulos [primeira rua de Formosa]. Naquele ano, durante os meses em que visitou a cidade, o Visconde morou em um casarão existente naquela rua, na esquina da atual rua Hugo Lobo.
A nova denominação foi criada, imediatamente, depois da visita: a rua passou a ser conhecida por “rua do Visconde.” O Visconde se encantou com a cidade, com a calorosa recepção, com o clima e com a paisagem, e deixou como recordação um barômetro aneroide, conservado por quase um século na Prefeitura da Cidade.
Naquele mesmo ano, quando a Vila Formosa da Imperatriz foi elevada à condição de cidade, a Câmara de Vereadores aprovou a alteração do nome da rua das Flores para o nome atual. (…)
A rua Visconde, como era – e ainda o é – familiarmente denominada por todos, e servia de ligação entre a rua do Norte, a primeira a ser habitada e primitivamente denominada rua dos Crioulos, e o lado sul do Arraial, onde se tomava o caminho de Arrependidos, logo estendeu-se rumo Norte, avançando coluna acima, em direção ao altiplano do divisor de águas do Paranã-Bandeirinha e do córrego do Brejo-rio Preto.
No início, a rua era apenas um caminho que, depois, foi aos poucos provida de raras casas cobertas de telha, cada uma delas construída na testada de imensos lotes de terreno, chácaras plantadas com inúmeras árvores frutíferas, em meio ao capim e às moitas de cana, destinados aos cavalos que serviam a seus habitantes.
Mesmo nos anos adiantados do século vinte, podia-se apontar a localização dessas chácaras e fazendas primitivas: cada quarteirão da rua, especialmente aqueles do lado direito de quem sobe da rua dos Crioulos para o largo da Matriz, mostrava as evidências encontradas nas mangueiras, claramente seculares, nas jabuticabeiras de troncos avantajados, nos extensos canaviais, nos restos de paredes de antigas casas destruídas.
NOTA DA REDAÇÃO
Alfredo A. Saad foi um escritor primoroso. Seu livro “Álbum de Formosa” traz histórias inéditas, fundamentais para a compreensão da história social do município.
Devia ser adotado nas escolas, devia fazer parte do acervo das bibliotecas, devia ser o presente institucional do município aos e às visitantes ilustres da cidade.
Seu filho Alfredo Antonio Saad Filho assim o descreve:
Alfredo Antonio Saad faleceu em 2011. Entre seus papéis, encontravam-se os originas do Álbum de Formosa.
Essa obra foi escrita por amor à cidade onde ele nasceu, e onde viveu alguns dos melhores dias de sua vida. Formosa foi, também, sua referência de família, não apenas por ser a morada de seus pais e de vários parentes, mas por ter sido o núcleo formativo de sua trajetória de vida, seu principal referencial de memória e seu local de acolhida.
Formosa foi a sua casa e este livro é um retorno a ela.
Álbum de Formosa é uma obra histórica e de anedotas, reconstituindo a trajetória da cidade, recontando passagens significativas de sua evolução, e relatando personalidades e momentos que a formaram.
O livro parte de um ponto de vista intensamente pessoal para oferecer um relato único, irônico, ácido, cômico e melancólico das perdas impostas pelo tempo, pelo descuido e pelo progresso da cidade.
Ele funciona, assim, como um alerta para a necessidade de preservação da memória histórica e arquitetônica da cidade, como âncoras de identidade de seus habitantes.
SOBRE O VISCONDE DE PORTO SEGURO
Muito bom trazer essas lembranças, A respeito do Francisco Adolpho de Varnhagen, o Visconde de Porto Seguro, Patrono-Mor da ALANEG (Academia de Letras do Nordeste Goiano) foi um grande pesquisador, cientista, lutou pela independência do Brasil e, esteve em Formosa, onde definiu a região das Águas Emendadas para a instalação do quadrilátero Distrito Federal, antes da Missão Cruls, em 1877. Empunhava em sua fala e atos um arraigado patriotismo ao Brasil. Naquela época fez um importante registro: Mapa das pessoas que cobram propinas. Um grande salve para o Visconde de Porto Seguro!
Esta contribuição sobre o Visconde de Porto Seguro nos foi enviada pela escritora e poeta Iêda Vilas Boas Guarani-Kaiowá, presidenta da ALANEG, via Facebook. IVB, como ela gostava de ser chamada, partiu deste mundo em 08/04/2022. Deixa imensa saudade e um um inestimável legado de contribuições literárias para a Revista Xapuri, para o Cerrado, para Goiás e para o Brasil.