Sabão de Tingui, o sabonete Kalunga
O primeiro presente que me lembro de ter ganhado foi uma bola de sabão de tingui, bem redonda, bem grandona, de minha avó preta, Maria Feliciana de Jesus, no meu aniversário de 9 anos.
Por Zezé Weiss
Naquele tempo, na roça onde a gente morava, criança não sabia nem quando fazia aniversário, muito menos que tinha direito a presente. Mas como eu estava sarando de um tétano, naquele ano minha vó Maria fez questão da gentileza, que acabou ficando na lembrança do meu passado.
De uns anos pra cá, nessas minhas andanças pela Chapada dos Veadeiros, conheci dona Flor, uma fabulosa raizeira de oitenta e poucos anos que, além dos próprios filhos, trouxe ao mundo mais de 300 crianças da região onde mora, o povoado do Moinho, 12 km distante da sede do município de Alto Paraíso de Goiás.
Por dona Flor soube que o sabão de tingui que ela vende em sua própria “farmácia popular” faz parte da cultura centenária do povo Kalunga e que é rico em propriedades medicinais. Serve, no dizer de dona Flor, para dar brilho e evitar a queda dos cabelos; serve também para curar micoses, coceiras e outras irritações da pele.
Por essa razão, já faz um bom tempo que não gero lixo com embalagem de xampu. Os meus cabelos eu lavo com o sabonete de tingui da dona Flor, que compro em pequenos pedaços quando passo pela Chapada dos Veadeiros. Os meus cabelos melhoram, a minha pele também melhora, e o planeta agradece.