Saúde Mental: milhares de vidas ameaçadas pelo MS

Mental: milhares de vidas ameaçadas pelo MS

Revogaço do Ministério da Saúde ameaça milhares de pessoas que cruzaram o inferno e ousaram desejar a que pulsa mais forte

Nessa semana, o Ministério da Saúde apresentou aos conselhos Nacional de Secretários de Saúde  (Conass) e de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) um conjunto de “propostas” em relação às políticas de .

Na verdade, um revogaço de cerca de 100 portarias, editadas sobre saúde mental, de 1991 a 2014.

Para quem não é da área, pode parecer à primeira vista que seria mera eliminação de portarias “antigas”, velhas”, visando à “modernização”.

Puro engano.

“Nada mais velho, retrógrado e antidemocrático que a revogação dessas portarias!”, alerta o médico psiquiatra Roberto Tykanori, ex-coordenador de Saúde Mental do Ministério da Saúde  e professor  adjunto da Unifesp/Baixada Santista.

“Essas portarias foram instituídas em décadas de discussão entre secretários de saúde, quatro conferências nacionais de saúde mental, com a participação de milhares de delegados”,  explica.

“Essa construção consensual formou as bases de uma política de saúde mental que respeita a dignidade e os e a de ir e vir”, observa.

O revogaço ameaça programas como De Volta para Casa e o Serviço Residencial Terapêutico, que visam a reabilitar psicossocialmente pacientes submetidos a longas internações psiquiátricas.

“Imediatamente milhares de pessoas em serviços residenciais ficarão sem definição, o que farão os municípios?”, preocupa-se o médico psiquiatra Roberto Tykanori.

“Descortino os silêncios da minha , faço sangrar a minha angústia, revelo todos os segredos da minha realidade interior e exterior, os despojos da criatura humana, subverto todo o lugar comum, não aceito e não vivo uma vida de incapacidade e passividade (…) caminho num labirinto mental de emoções inatingíveis, transgrido com voracidade o estigma da loucura, ultrajo a morbidez do silêncio, não me calo diante a hipocrisia.” (Altair Pinheiro)

Os depoimentos deles revigoram a teimosa que nos faz acreditar que estes depoimentos foram transformados em acreditar na humana.

Alguns depoimentos dos que já foram internados muitas vezes estão na Websérie:  Retratos da Reforma Psiquiátrica Brasileira” e comprovam a absurda da segregação e dos atos agressivos promovidos nos hospitais psiquiátricos, afirmam os seus autores.

“São histórias reveladoras da humanidade que a Reforma Psiquiátrica apostou e construiu no ”, atentam os responsáveis pela Websérie lançada nessa semana.

Uma produção do Núcleo de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas da Fiocruz Brasília (Nusmad).

No topo, os depoimentos emocionantes de Ana Venâncio, Antônio Gonçalves e Altair Pinheiro na Websérie.

Morar em Liberdade — As palavras de quem viu.

 

Fonte: Viomundo – Edição –  Iêda Vilas Boas

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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