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“Seja marginal, seja herói. Seja Professora!”

SEJA MARGINAL, SEJA HERÓI! SEJA PROFESSORA! 

O caso de demissão da professora por usar vestimenta com referências ao movimento literário marginal do Brasil revolta os diferentes setores da sociedade brasileira e questiona sobre o papel de uma democrática com debate de ideias.

Por Arthur Wentz e Silva/Revista Xapuri

Professora em Aparecida de Goiânia (GO) foi demitida, após fotos usando camiseta com frase de Hélio Oiticica, remetente a movimento artístico-literário nacional, serem espalhadas pelo deputado Gustavo Gayer (PL) e apoiadores da base bolsonarista.

O deputado publicou a foto da professora com camiseta de dizeres da obra marginal “Seja marginal, seja herói”. Em seu discurso odioso, fomentou não apenas críticas, mas também ataques à profissional. Dentre os ataques, o mais recorrente foi sobre posicionamentos políticos, onde o mesmo escreveu: “professora de história com look petista em sala de aula”.

Seja marginal, seja herói
Referência da estampa é a obra de Hélio Oiticica de 1968 – Foto: Camisa Critica

Após o constrangimento provocado pelas mentiras do deputado, a professora foi demitida do colégio. Em entrevista para o G1, ela mencionou que “(…) a obra é vermelha, por isso a camiseta é vermelha. Não há associação alguma”.

Além disso, segundo a professora, na mesma entrevista, há uma motivação ainda que pedagógica na escolha da vestimenta: “Sempre uso camisetas com obras de arte. É um jeito que tenho para conversar sobre arte com os alunos, de forma despretensiosa. Naquele dia expliquei e eles entenderam o contexto histórico da obra”

A Marginal

Também chamada de “Geração Mimeógrafo”, foi um movimento artístico-literário de impacto em vários setores da arte, como música, , teatro, artes plásticas e sobretudo na literatura.

Em tempos de repressão da Ditadura Militar, o contexto da Literatura Marginal era de empregar um novo sentido para a . Seu amplo tem princípios da contracultura. Nesse sentido, o objetivo se concentrava em substituir a forma tradicional de circulação de obras por meios alternativos de comunicação.

As temáticas urbanas e a vida popular, nesse sentido, ganhavam espaço nas produções culturais da época e tangenciam para uma nova perspectiva de fazer cultura. As vozes da periferia ganharam força pelas mais diversas manifestações artísticas.

Dentre as características, apresenta-se em um estilo marcado pelos textos, em sua maioria curtos, recheados por uma linguagem coloquial, mais urbana, com traços de oralidade e espontaneidade.

Repercussão

Vários setores da sociedade manifestaram indignação acerca do caso. Nas redes sociais, os ataques foram rebatidos por diferentes professores e núcleos educacionais. O conteúdo disseminado pelo deputado e a extrema-direita intensificaram o debate acerca da importância da liberdade de cátedra dentro dos espaços de ensino. 

A rede educacional Colégio Expressão, responsável pela demissão da professora, afirmou em nota que: “É importante destacar que a escola não é lugar de propagar ideologias políticas, religiosas ou preconceituosas. Nossa missão é formar cidadãos conscientes e éticos, capazes de compreender e respeitar as diferenças culturais e ideológicas.”

O SINPRO, Sindicato dos Professores do Estado de Goiás, além de repudiar as condutas do deputado, buscou aparatos jurídicos para combate da narrativa agressiva de Gayer (PL). A petição também foi assinada por frentes de trabalhadores e como o Sintego, Fitrae-BC e Contee. Na oportunidade, solicitaram a exclusão da conta que ataca constantemente professores e nomes da educação goiana.

Na nota, o sindicato ainda menciona que “(…) também ajuizou outra ação, cível, para que sejam reparados os danos materiais e morais sofridos pela professora. Está também em fase final de elaboração a ação trabalhista contra o Colégio, em caso de consumação jurídica da demissão da docente”.

Para o presidente da União Estadual dos Estudantes de Goiás (UEE GO) e coordenador do Diretório Central dos Estudantes da UFG (DCE UFG), Ranilson Júnior, “práticas como essa em Goiás têm se tornado comum. É inadmissível que os professores sofram perseguição política, instigada e respaldada por Gayer, deputado que instiga o ódio e a violência nos diferentes espaços”.

O estudante lembrou ainda a do PL 2630, onde menciona: “Na semana em que pautamos a aprovação da PL que criminaliza as Fake News, podemos ver que o medo nunca foi da censura, até porque ela existe e está posta. O medo é de serem responsabilizados por levantarem o discurso de ódio e propagar a desinformação”.

O papel da escola 

Quando a ignorância invade o debate, a cultura e com certeza quem sai perdendo é o povo brasileiro. Os ataques que acometeram a professora acerca do movimento, integram uma rede de ódio dissimulada provocada pela extrema-direita no país. 

Confundir “doutrinação ideológica” com a expressividade dos movimentos artísticos e literários é, sem dúvidas, negligenciar sob a ótica educacional as realidades e identidades do povo brasileiro.

O que faz o deputado é violentar de forma abrupta a educação brasileira, com toda sua história e formalização enquanto instituição de construção social. A tentativa de despolitizar as discussões e criar na escola uma indústria de máquinas é uma velha tática da extrema-direita para esvaziar as mentes reflexivas e críticas tão importantes à democracia brasileira. 

Nesse sentido faz valer a ideia de que o papel da escola, no que é preciso contradizer a narrativa do Colégio, precisa ser um lugar de insurgências e de democratização das discussões. A educação é um processo de compreensão social, de entendimento das demandas sociais. 

Aos moldes de , em suas diferentes atribuições, o pensamento de libertação por meio da educação é fundamental para entendermos a importância da cátedra e da liberdade de ensino. Professores e estudantes precisam entrar nas discussões das mais diferentes realidades sociais e quando a escola cessa tal debate, a educação libertadora não se torna mais uma realidade.

Arthur Wentz e Silva: Estagiário da Revista Xapuri. Capa: Reprodução/Iluminerds 


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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