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Sementes crioulas, sementes da esperança

Sementes crioulas, sementes da esperança

Sementes crioulas, sementes da esperança

Novembro é mês de plantio, é de plantar a esperança, de colocar as sementes na , porque é a semente o primeiro elo da cadeira alimentar. Brasil afora, cada vez mais famílias de agricultores e agricultoras buscam trocar mudas e sementes nativas para aumentar a variedade de plantas em suas pequenas propriedades.

Essa prática cultural, herdada das gerações anteriores há pelo menos 10 mil anos, representa hoje uma ação de resistência contra a industrialização do campo, implantado na produção rural a partir da segunda metade do século XX, que se tornou responsável por uma redução drástica na biodiversidade do e na base alimentar dos povos.

Foi-se o tempo em que a semente resumia o caminho da vida de cada espécie, do jeito que a a criou. Hoje, as alterações genéticas em laboratórios fazem as mudanças que a natureza demorava anos, às vezes séculos para produzir. As sementes crioulas são o que restou do tipo antigo de sementes, portanto tem um repertório de seleção natural de milhares de anos.

Existem mais de 10 mil espécies no . A agricultura antiga produzia com base em mais de 500. A agricultura industrial reduziu a base de nossa alimentação para apenas nove espécies. O trigo, o arroz, o milho e a representam hoje 85% do consumo de grãos no mundo.

semente-xapuriBoa parte das espécies usadas em nossa alimentação, como o milho, a batata, a mandioca, o feijão, o tomate, a pimenta, o cacau, é nativa das Américas. Essas plantas foram domesticadas por nossos povos indígenas. Outras, como o trigo e o arroz, vieram de outros continentes, e foram conservadas e melhoradas por trabalhadoras e rurais brasileiros ao longo de centenas de anos.

Essas são as sementes crioulas, também chamadas de sementes da esperança. Ao cultivá-las, as famílias de agricultores/as preservam um patrimônio da , legado por nossos antepassados.

Matéria produzida por Zezé Weiss, com a colaboração de Socorro Alves, trabalhadora rural assentada pela no Projeto de Assentamento Brejão, no Vale do Paranã, em Formosa, , para a revista Xapuri.


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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