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SILÊNCIO GUERREIRO

Silêncio Guerreiro 

Indígena da etnia Omágua/Kambeba, a e geógrafa Marcia Wayna Kambeba nasceu na aldeia tikuna, em Belém do Solimões (1979). “Silêncio Guerreiro” é uma de suas belas poesias. 

Por Marcia Kambeba via Vozes femininas
 
No território indígena,
O silêncio é sabedoria milenar,
Aprendemos com os mais velhos
A ouvir, mais que falar.
No silêncio da minha flecha,
Resisti, não fui vencido,
Fiz do silêncio a minha arma
Pra lutar contra o inimigo.
Silenciar é preciso,
Para ouvir com o coração,
A voz da natureza,
O choro do nosso chão,
O canto da mãe d’água
Que na dança com o vento,
Pede que a respeite,
Pois é fonte de sustento.
É preciso silenciar,
Para pensar na solução,
De frear o homem branco,
Defendendo nosso lar,
Fonte de vida e beleza,
Para nós, para a nação!
 
Marcia Kambeba, no livro “Ay kakyri Tama – Eu moro na cidade”. Grafisa Gráfica e Editora, 2013.

MARCIA WAYNA KAMBEBA

Marcia Kambeba
Bio e vídeo: mulheresdeluta
Aos oito anos, mudou-se com a família para São Paulo de Olivença, onde estudou até o ensino médio. Por influência da avó, que era professora e poeta e lecionou por mais de 40 anos na aldeia onde nasceu, compartilhando toda sua vivência ribeirinha, Marcia Kambeba começou a escrever seus primeiros versos aos 14 anos.
Mais tarde, Marcia Kambeba fez nova mudança para Tabatinga, também no , onde se graduou em Geografia pela UEA.
Apesar das dificuldades, trabalhou como radialista por mais de 10 anos, passando a conciliar o trabalho com os estudos em determinado momento. Junto com o marido, lutava para conseguir quitar o apartamento em que moravam, bem como as demais despesas.
Marcia Kambeba precisou abrir mão inclusive de refeições para adquirir material de , mas, no fim, conseguiu se especializar em Educação Ambiental e fazer seu mestrado, o qual traz a do povo Kambeba desde o século XVI até os dias atuais, na UFAM. Após a conclusão dessa especialização, voltou a escrever depois de um longo período afastada desse ofício.
Atualmente, reside no Pará e tem investido na carreira artística e em suas poesias, que têm semelhanças com o cordel e repercute sobre a violência contra os povos indígenas, além dos conflitos gerados pela vida na cidade.
Com a excelência da dissertação com a qual concluiu seu mestrado, que tinha como tema a e o território do povo Omágua/Kambeba, Marcia Kambeba teve a ideia de transformar o trabalho em .
Assim nasceram “Ser indígena, ser Omágua” e “União dos povos”, que elucidam sobre a afirmação indígena e sobre os índios que não perderam sua essência e ancestralidade mesmo morando nas cidades.
A partir disso, também escreveu seu primeiro livro, “Ay kakyri Tama”, que significa “eu moro na cidade”, nome também de um dos poemas que o compõe e que acabou se tornando música.
Geografia, arqueologia, antropologia e história podem ser encontradas na sua escrita sob um viés educativo. Seus textos não são apenas belos, mas propõem um processo de descolonização e podem ser trabalhados em sala de aula a fim de proporcionar uma melhor compreensão da cultura indígena. Através de sua arte, crianças e adolescentes podem entender onde vivem os povos indígenas, o que eles desejam, como querem ser conhecidos e como ajudá-los a continuar resistindo para manter a sua diversidade.
Seu trabalho resgata a de várias formas, como escritora, cantora, contadora de história, líder, sábia e guardiã da floresta. Quanto ao feminismo, embora não o enxergue na cultura indígena, acredita que o feminino é muito presente: há um cenário que permite que a mulher, porta-voz e representante da nação, se apresente de várias formas. 
Leitora não só de literatura indígena (Eliane Potiguara, Ailton , Daniel Munduruku), mas também de Machado de Assis, Graciliano Ramos, Cecília Meireles e Cora Coralina, a poeta percebe a mulher como um rio que dribla as pedras e segue seu curso.
Atualmente, Marcia Kambeba escreve poemas, contos, resenhas, ensaios e críticas sobre a luta das mulheres indígenas, além de compor em e português e realizar exposições de seu trabalho como fotógrafa. Classifica seu trabalho como lítero-musical, uma vez que une a música indígena à poesia e faz parcerias com pessoas não indígenas que são pesquisadoras da sua cultura, como o Edu Toledo, pianista e compositor, com o qual compôs quatro músicas.
Ademais, Marcia Kambeba está organizando quatro livros a serem publicados, três de poesia e um de contos. Um deles se chama “De almas e águas índias: identidade e cultura na voz da mulher indígena”, que traz a valorização da mulher e a , água e mata enquanto alma feminina.

 
Imagem de Capa: Agência Brasil

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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