Surfistas Negras

Surfistas Negras: Representatividade nas Ondas

Surfistas Negras: Representatividade nas Ondas

Érica Prado é jornalista, apresentadora do canal OFF, surfista profissional e também idealizadora e fundadora do projeto @surfistasnegras

Por Eduardo Pereira

A paixão de Érica pela praia e pelo mar começou cedo. Nascida no Rio de Janeiro, a Érica morou grande parte da infância em Arraial do Cabo, passando seus dias brincando na praia. Com sete anos, se mudou para a Bahia, morou em Salvador e depois Itacaré.

Foi em Itacaré, assistindo de perto os campeonatos de surf nacionais e internacionais, que Érica decidiu seguir o sonho de ser surfista profissional.

Surfistas Negras
Foto: @humanos.do.

Quando ela começou a se profissionalizar no surf, tinha poucas competindo, muito menos . Até hoje, as surfistas negras são as menos favorecidas com oportunidades como patrocínio de marcas e incentivos para competir.

Segundo Érica, os principais critérios para escalar um time de surfe ou representar uma marca hoje no Brasil não são baseadas no talento mas sim: a) número de seguidores no Instagram e b) a cor da pele.

Para a apresentadora, isso “acaba reforçando o estereótipo da surfista branca com mechas californianas. Mas a gente vive no Brasil e a realidade da maioria das surfistas brasileiras é outra.”

O projeto Surfistas Negras surgiu para conscientizar o público e desenvolver ações concretas para mudar este cenário, jogando uma luz numa categoria que é uma parte integral do surf no Brasil, porém muitas vezes esquecida.

“Depois que levantei a bandeira do movimento das Surfistas Negras, muita coisa mudou. Parece que foi um grito que estava entalado. Eu precisava trazer essas meninas para o .”

Este grito não só trouxe luz e foco para as surfistas negras já atuantes, mas também inspirou muitas meninas negras a aprenderem a surfar.

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Foto: @fabricianojuniorsurf

“Muitas mulheres fortes me inspiram,” diz Érica. “Minha , Denise Prado, é uma delas. Ficou viúva cedo, criou dois filhos sozinha. Uma presença forte dentro de casa que nunca me deixou baixar a cabeça.”

A Érica já passou por desentendimentos por levantar a bandeira feminista no seu , porém a jornalista sabe da importância crucial de insistir na representatividade das mulheres, que seja na frente das câmeras ou nas ondas. “Eles vão ter que me engolir,” ela complementa. 

A Érica reconhece o papel da simbologia nos movimentos de e promoção de direitos iguais, influenciando de um jeito bem especial a escolha da prancha dela. 

“Quando surgiu a ideia de fazer uma prancha personalizada, eu não pensei duas vezes,” afirma Érica. “Eu queria retratar a na minha prancha. Eu quero surfar com ela.”

“O fato dela não se calar, me encorajou muito. Quando você tem uma como a Marielle Franco, ocupando o lugar que ela ocupou; isso é muito potente.”

Segundo a Lídia Viber, artista plástica que fez o desenho da prancha, “Qualquer iniciativa para tentar trazer o foco para nós como mulheres pretas, eu acho que isso é o que move a gente. É o que faz com que outras mulheres se vejam refletidas em nós e que faz com que nosso movimento ganhe mais força.”

O sonho da Érica é levar o movimento para todo o Brasil e aumentar a representatividade da mulher negra no surf e continuar incentivando meninas a ingressarem e se destacarem no esporte.

Crédito pelas informações: Canal OFF Brasil.

Esta é uma reportagem especial em parceria com o perfil @humanos.do.brasil no Instagram.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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