Jovens de 25 anos levam tecnologia portátil que purifica água para as aldeias Yanomami
Oferecer água limpa a pessoas que vivem no país com maior oferta de água potável do mundo (o Brasil!) e, ainda assim, não têm acesso ao recurso foi o que motivou os jovens Rodrigo Belli, Daniel Ilg Leite e João Manuel Piedrafita a investir na Água Camelo.
A startup oferece tecnologias que facilitam o acesso à água potável em regiões de extrema vulnerabilidade social. Entre elas, uma mochila acoplada com filtro de água portátil que garante a purificação de 15 litros de água por vez. A inovação foi desenvolvida por um dos próprios jovens, Rodrigo Belli, durante trabalhos do seu curso de Design de Produtos na PUC-Rio.
O negócio social foi fundado em agosto de 2020 e começou beneficiando moradores do Morro da Providência, no Rio de Janeiro. Hoje, com pouco mais de 2 anos de operação, a startup já contribui para auxiliar numa das maiores crises humanitárias do Brasil dos últimos tempos: a das aldeias Yanomami.
Por conta de atividades irregulares de garimpo, os corpos hídricos no entorno dessas comunidades indígenas estão extremamente contaminados por químicos, como o mercúrio, o que torna a água imprópria para consumo e também impossibilita as atividades de caça e pesca. O resultado é um cenário emergencial de insegurança alimentar: fome, desnutrição, malária… Todos desafios que, para serem tratados, dependem de água limpa – para beber, cozinhar, tomar remédio…
Desde janeiro, essa água é garantida pela Água Camelo. Com apoio da Funai e da Central Única das Favelas, a startup já levou dezenas de Kit Camelos – constituídos pelas mochilas acopladas com filtros de purificação, além de manual de instrução e suporte para parede – para as aldeias Yanomami, em Roraima.
Agora a startup trabalha em parceria com a Funai para ir além e instalar, dentro do vasto território Yanomami, outra tecnologia que oferece: a Central de Distribuição de Água, capaz de purificar em 99,9% até 20 mil litros de água por hora. Que trabalho importante!
Autor: Débora Spitzcovsky. Disponível em The Greenest Post. Fotos – Arquivo Água Camelo
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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