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TOMÉ DE SOUSA BELO: VAI-SE O GRANDE LÍDER DA FLORESTA

Partiu Tomé de Souza Belo, o seu Tomé, grande líder extravista da  

Tomé de Souza Belo, o “Seu Tomé”, nascido no ano da graça de 1935, partiu dos espaços deste , para virar estrela nos jardins do céu, às 4 horas da manhã do dia 6 de novembro de 2017.

Por Zezé Weiss

Morador do Retiro São Thiago, na Comunidade do Carvão, no município de Mazagão, no estado do Amapá, Seu Tomé deixa um vazio imenso no coração da esposa, Deusa Silva Belo, dos 15 filhos e filhas (12 biológicos e três adotivos) e de uma multidão de pessoas que, por décadas, militaram com ele em defesa das justas e necessárias causas das trabalhadoras e dos trabalhadores brasileiros.

Agricultor e ambientalista, Seu Tomé foi também um grande militante político. Fundou o PT e a CUT e tinha muito orgulho de ter recebido o sindicalista, depois presidente Lula, em sua comunidade, no momento da fundação dos em sua região e no Amapá.

Foi fundador e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Estado do Amapá e presidente da Associação dos Agricultores do Amapá, que antecede o Sindicato.

Foi também fundador das Escolas Família do Amapá, fundador e grande organizador da Família Agroextrativista do Carvão, na comunidade onde vivia.

“Na época, as pessoas não acreditaram muito, mas com o decorrer do tempo foram acreditando e só vem aumentando a procura pela escola. Começamos a fazer a alternância, de 20 dias escola e 15 nas casas dos pais. Quando foi em março, terminamos, e já tinham 32 alunos, e passamos a fazer duas turmas,” contava Seu Tomé com entusiasmo.

Em sua homenagem, a Escola do Carvão passará a se chamar Escola Família Agroextrativista Tomé de Souza Belo.

TOMÉ DE SOUSA BELO: VAI-SE O GRANDE LÍDER DA FLORESTA
CNS

JOAQUIM BELO: O FILHO MILITANE DE SEU TOMÉ 

Joaquim Correa de Souza Belo: Presidente do CNS (2002–2005/2015–2019)
Por Marcos Jorge Dias 
Joaquim Correa de Souza Belo herdou do pai, o grande líder extrativista Tomé de Souza Belo, a beleza no nome e a vocação para ser liderança. Da mãe, Maria Deuza Correa de Souza, carrega nas veias o pulsar de devoção ao guerreiro São Tiago, divindade mazaganense, razão por que, desde jovem, luta em defesa do território onde seus ancestrais assentaram morada.
Nascido em 19 de julho, Joaquim é natural de um Projeto de Assentamento Extrativista, no município de Mazagão, estado do Amapá, localidade que, por volta de 1770, recebeu 163 famílias transferidas de uma possessão portuguesa no Marrocos, na África.
Formado e forjado na Escola-Família Agrícola de Olivan Anchieta, Espírito Santo, nos anos de 1989 a 1992, Joaquim sempre esteve em lugares onde a luta do Movimento Social em defesa dos extrativistas e dos povos da fl oresta se fez necessária.
Duas vezes presidente do CNS, Joaquim foi também Secretário do CNS no Amapá, Conselheiro do Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), presidente da Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas do Carvão Mazagão, tesoureiro administrativo da Rede das Escolas-Família Agrícolas do Carvão Mazagão e membro do Fórum das Associações de Agricultores de Mazagão.
Atualmente, Joaquim é Coordenador de Projetos e Membro de Comitê Gestor e Conselhos: Projeto Puxirum (Governo Finlandês/ Santarém); Membro do Conselho Assessor Externo-CAE Embrapa;
Conselho Estadual de Rural, Conselho Nacional de Floresta; Conselho Nacional de Meio Ambiente; Programa Áreas Protegidas-ARPA; Programa Comunidades Tradicionais (MMA); e Fundo Nacional de Meio Ambiente (MMA).
Para Joaquim, o conhecimento do extrativismo e das populações tradicionais é um aprendizado:

Desde criança é preciso saber manejar uma floresta, olhar para o céu e saber sobre a influência da lua para fazer a colheita. Isso não é valorizado, é ignorado. O governo cria institutos de educação para o meio rural, mas o olhar ainda é vesgo. Existe uma política moldada e desenhada para esse modelo moderno que se choca com o modo de dos extrativistas.

Profundo em seu conhecimento, Joaquim vai além em sua compreensão da realidade enfrentada por seu na floresta:

Hoje a gente vive num sistema muito perverso. A produção se padronizou. Já a nossa batalha na terra é de geração para geração. Foi do meu avô para o meu pai, do meu pai para mim, e daí vai para o meu filho. Hoje essa passagem está em risco porque o nosso ambiente rural e extrativista vem sendo negado o tempo todo.

O que fazer? Joaquim, o grande líder da floresta, completa:

O instrumento que temos para defender nossos territórios é através das nossas organizações. E se não fosse esse movimento, o CNS e essa nossa , não sei o que seria da Amazônia.

Marcos Jorge Dias – Escritor, estudante de Jornalismo e membro do Conselho Editorial da Revista Xapuri. Perfil extraído da entrevista feita por Maria Emília Coelho, jornalista e Assessora de do Instituto Internacional de Educação do (IEB). Fonte: Carta Capital. Com edições de Zezé Weiss. 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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