UM GRANDE ESTRATEGISTA

UM GRANDE ESTRATEGISTA

UM GRANDE ESTRATEGISTA 

Athos vaticinou o meu futuro na política: “Fernando, você nunca vai dar certo na política. Não pode ver uma caixa de cerveja que pega dum lado”. Acertou! Grande Athos!

Fernando Pereira

O danado era tão danado que até bem perto da morte não perdeu a vivacidade. No leito da UTI, quando ainda conseguia falar, disse ao meu ouvido: “Isso é a vingança do imperialismo”, sobre a doença contra a qual ele lutou bravamente. Essa foi a última lição que recebi do meu querido amigo: força e coragem para lutar e resistir até o fim. E lutar com a galhardia da bravura do Che, sin perder la ternura jamás! Athos foi a síntese entre a doçura e a força. Empunhou cotidianamente a bandeira da leveza de alma, mas trazia a do Partido dos Trabalhadores sempre hasteada no seu coração. 

Dorian Vaz 

Sortudos foram aqueles que puderam caminhar ao lado de Athos Pereira. O tempo que tive com ele foi de pura admiração – por suas análises profundas, seus posicionamentos firmes e, também, pelos momentos de leveza e descontração. Athos me desafiava a cada conversa, estar ao seu lado me exigia atualizações constantes para acompanhar a profundidade de seus pensamentos, sempre expressos de forma clara e inspirada. Athos Pereira é a personificação da responsabilidade e da humanidade. Ele se importava com todo mundo ao seu redor, fazendo de cada pessoa sua prioridade. Em cada gesto e palavra, Athos foi a expressão de acreditar no potencial até mesmo de quem havia perdido a fé. 

Eduardo Felipe Gomes de Sousa

Foi sem dúvida o maior estrategista político que conheci. Athos sabia como conciliar diferenças, defender posições, apaixonadamente, mas com respeito à política e ao exercício do diálogo. Sua inteligência e erudição seduziam seus interlocutores, seja no plenário da Câmara, no calor da disputa partidária, ou na

mesa do bar, que ninguém é de ferro. Acreditava na capacidade do fazer coletivo. Acompanhou e participou do crescimento da bancada do PT assessorando os líderes, Lula inclusive. Muito me ensinou com seu jeito irônico, ao analisar o momento político e ao defender os ideais da esquerda, de mais paz e Justiça entre os homens. 

Junia Lara

“Você já leu…?” talvez seja a frase mais comum dos nossos diálogos. Athos Pereira foi um dos grandes quadros políticos que o PT e a esquerda brasileira produziram, e eu acabei tendo a sorte de conversar com alguém que era um leitor voraz e que adorava conversar sobre literatura. Em meio às sugestões e comentários que ele fazia, sempre carregados com o conhecimento e a ironia que eram tão marcantes em sua personalidade, se percebia a alma de uma pessoa que era profundamente humanista, um conceito fora de moda e talvez até em extinção para se referir a alguém. Seu legado é indelével em qualquer ser que tenha desfrutado de uma boa prosa com ele. 

Rogério Tomaz Jr.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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