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Um Serviço Vazio de Sabedoria

UM SERVIÇO VAZIO DE SABEDORIA

Um Serviço Vazio de Sabedoria

Dois amigos caminhavam no meio de um milharal. Eles conversavam sobre várias coisas. Enquanto conversavam, olharam sobre os milhos e, de repente, viram passar duas jandaias próximas a eles. Uma delas, não conseguindo se desviar, bate num coqueiro e cai no chão.

Por: Joacir S. d´Abadia

Os rapazes foram ver o que houve. Chegando ao pé de coco, viram que a pobre já “estava nas últimas.” Observando que a ave viera a óbito, um deles, lembrando-se de que sua mãe tinha um aparelho pra fazer exames em animais, viu a possibilidade de saber o motivo da morte do pássaro.
 
Como ficou difícil levar a jandaia inteira para fazer o exame, tiraram apenas uma das pernas dela. Na estrada,  tinha uma blitz do “Órgão de Defesa dos Animais e do Meio Ambiente” fazendo barreira com muitos agentes. Quiseram saber, com detalhes, porque estavam com aquele resto mortal proibido. Eles tiveram que contar toda a história:
 
Os rapazes foram ver o que houve. Chegando ao pé de coco, viram que a pobre já “estava nas últimas.” Observando que a ave viera a óbito, um deles, lembrando-se de que sua mãe tinha um aparelho pra fazer exames em animais, viu a possibilidade de saber o motivo da morte do pássaro.”
 
O interrogatório, com todas explicações sendo dadas nos mínimos detalhes,  demorou mais de uma hora até que fossem liberados pelo “Órgão de Defesa dos Animais e do Meio Ambiente”. No caminho, um dos amigos lembrou de ligar para sua mãe, pra falar da jandaia. Todavia, descobriu que sua matriarca havia viajado e não podia atendê-lo.
 
Com o desencontro da mãe, buscaram auxílio em um posto mais próximo pra fazer o exame na tentativa de descobrir a causa da morte da ave. Com isso, eles chegaram a um local que não era posto, mas sim, o próprio escritório da Defesa dos Animais.
 
Para surpresa dos jovens, chegando lá às oito horas da manhã, encontraram uma sala com vários livros espalhados pelo chão e tendo em vista não haver salas pra colocar todos os livros, tiveram portanto, que andar sobre eles. Os jovens já ficaram apreensivos porque tinham que caminhar sobre toda aquela sabedoria.
 
Como o departamento em que eles tinham que levar a perna da jandaia pra fazer o exame ficava em uma das últimas salas, necessariamente, deram-se ao luxo de caminhar sobre toda a intelectualidade daqueles livros. Chegando à sala, descobriram que era só um documento que precisavam para poder encaminhar a perna da jandaia a outro laboratório.
 
E nisso, todos os agentes estavam esperando, sem trabalhar, apenas à espera de duas funcionárias terminarem de tirar todos os livros da sala e limpar o recinto. Nesse tempo de espera, os agentes ficavam reunidos conversando e assim que as jovens liberavam as salas, começavam seus trabalhos.
 
Porém, já eram 10 horas da manhã quando chega mais um dos agentes. Aliás, ainda estavam as duas mulheres carregando os livros,  sem a ajuda de nenhum dos agentes. Todos se ocupavam da mesma realidade: “conversar uns com os outros até as jovens terminarem seus ofícios por volta das 11 horas da manhã, exatamente a hora em que chegou um novo agente pra atender os jovens”.
 
Na medida em que viu o material trazido pelos rapazes, ficou questionando porque estava daquele jeito e emendou que não poderia ser daquele modo. Foram interrogados novamente para o agente saber o que eles estavam fazendo com um objeto proibido. Os jovens tiveram que contar a mesma a história pra ele:
 
Os rapazes foram ver o que houve. Chegando ao pé de coco, viram que a pobre já “estava nas últimas.” Observando que a ave viera a óbito, um deles, lembrando-se de que sua mãe tinha um aparelho pra fazer exames em animais, viu a possibilidade de saber o motivo da morte do pássaro.” 
 
Ao terminar o relato, já eram 12 horas. O estabelecimento deveria fechar pro almoço – foi o que o novo agente avisou: “o laboratório só funciona a partir das 14 horas”. Enquanto eram informados do horário do laboratório, chegou uma outra pessoa pra colher o material, a qual diz-lhes que o exame ficaria pronto às 15 horas. Esta pessoa não era um agente público, ao passo que, trabalhava para uma empresa terceirizada pelo governo.
 
Na hora prevista, os jovens foram buscar o material que ficou pronto às 16 horas; o atraso foi de exatamente de uma hora. No resultado do exame estava escrito em letras maiúsculas: MORTE SÚBITA. Com o informe, os jovens foram, cada um pra casa seguir suas vidas normais.
 
Vendo tudo aquilo acontecer durante um dia inteiro, eles foram questionar com suas consciências, que no trabalho público, onde tem mais de dez funcionários, o trabalho ainda não segue. Porque eles chegaram lá às oito horas da manhã, saíram às 17 horas e não tinha mais ninguém pra ser atendido. Nem tinham outras pessoas pra reclamar do mal-atendimento. Dez pessoas sem fazer nada e as outras nove com “conversas fiadas” o dia todo.
 
Por fim, recordaram que aquela perda de tempo para organizar os livros e o desrespeito para com os mesmos, representava o próprio trabalho dos agentes e atendentes, pois não havia produção; e com isso, podiam ocupar-se com qualquer coisa. Eles esperavam a sala ser desocupada com a sabedoria para iniciarem seus trabalhos, apenas ficavam com as leis que tinham para desempenhar seus labores.
 
Assim foi o sonho de um jovem que tinha em seu quintal uma gaiola com muitas calopsitas e em sua casa uma biblioteca cheia de livros. O jovem era um livro ainda sendo escrito: “O grande vazio _ Há muitas indecisões para estarmos experimentando enquanto vivemos. Experimentamos este grande vazio que nem sempre nós compreendemos o que ele significa.
 
Você pode estar em sua casa fazendo seus próprios trabalhos, utilizando do seu emprego, da sua família… Mas nem sempre você percebe que este vazio existencial ele continua na própria vida. É como você olhar para um anfiteatro e nada enxergar. Ver o vazio que há em cada ser, mas, é claro, tenha certeza, sempre no fim existe uma grande luz para preencher este vazio existencial presente em cada um de nós, este vazio chamado vida que ao mesmo tempo é preenchido com o nosso viver”.
 
ANOTE:
@Padre Joacir d’Abadia, Filósofo autor de vários livros e membro das Academias de Letras “ALANEG” e “ALBPLGO” e da “Casa do Poeta Brasileiro”.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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