Uma “pura vira-latas” sobe a rampa na festa da democracia

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Uma “pura vira-latas” sobe a rampa na festa da democracia

Vibrante e dócil, lá estava Resistência, segundo Janja “uma pura vira-lata”, subindo a rampa do Planalto na festa da democracia. Cuidada por Janja e, por um breve tempo, pelo próprio Presidente da República, a cachorrinha da Vigília Lula Livre foi, a seu modo, mais uma linda estrela no momento mais emocionante da posse de Lula.

Por Zezé Weiss

Adotada por Janja e Lula, Resistência Lula da Silva ganhou o coração de Janja quando, nos tempos difíceis da prisão de Lula, tornou-se afeto comunitário e companhia coletiva do pessoal que, de abril de 2018 a novembro de 2019, fez companhia ao Presidente em frente à Polícia Federal, onde, por 580 dias, Lula ficou preso na capital do Paraná. Devia ter uns dois meses de vida, a Resistência.

Em entrevistas recentes, Janja conta como começou sua história de amor com Resistência: “Ela ficou alguns meses na Vigília, mas, como era muito frio em Curitiba, ela ficou doentinha, e eu falei: ‘Vamos lá, Resistência, você vai pra minha casa’. Contei isso por carta pra ele [Lula]: ‘Olha só, temos uma filha nova’. E aí o pessoal da Vigília sempre falou: ‘A Resistência ainda vai subir a rampa do Planalto’”.

Pois não é que aquela filhotinha SRD (sem raça definida) de pelagem preta (hoje mais para o cinza escuro), com manchas brancas no peito e nas patas, que ganhou de Janja não somente tratamento médico, vacinas em dia, banhos regulares no pet shop, mas também estrelas vermelhas nos cabelos, conforme Janja “para que não haja dúvidas de que é petista”, subiu a rampa do Planalto?

Zezé Weiss – Jornalista Socioambiental.

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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