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Uma Semana do Cerrado para Brasília

Uma Semana do Cerrado para

de lei que insere a “Semana do Cerrado” no Calendário Letivo da Rede de Ensino do Distrito Federal foi apresentado à Câmara Legislativa do DF, nessa terça-feira (23/11). De autoria do deputado Chico Vigilante (PT), a proposta é uma demanda do Grupo de Educadores Ambientais do DF, e se contar com o engajamento da , tem chances de passar a valer no ano que vem.

A ideia é de que a Semana do Cerrado seja realizada anualmente, de 5 a 11 de setembro, culminando com o Dia Nacional do Cerrado (11/09). Embora seja designada como uma atividade realizada durante sete dias, o projeto de lei prevê a preparação da ação ao longo de todo o ano. Pelo PL, a Semana do Cerrado consiste em uma série de iniciativas para informar e conscientizar sobre o bioma, por meio de painéis, seminários, palestras e outras ações educativas.

“Estamos vendo a destruição do Cerrado, bem como de todo o meio ambiente. Portanto, nada mais justo do que começar essa conscientização de preservação do nosso Cerrado nas escolas, fazendo efetivamente a orientação das crianças e dos adolescentes”, afirma o deputado Chico Vigilante.

O parlamentar comenta o crescimento da discussão sobre meio ambiente junto à sociedade brasileira e credita o fenômeno ao caos imposto pelas políticas antiambientalistas do governo federal.

“As coisas estão cada vez piores. Bolsonaro trata o meio ambiente do mesmo jeito que trata a pandemia. E aqui no DF também temos um cenário preocupante. Em um passado recente, tivemos racionamento de água. E isso é um reflexo do maltrato com o meio ambiente. Se não cuidarmos do nosso bioma, em um futuro breve, teremos um grave problema de abastecimento de água”, avisa.

Para dar consistência à execução da Semana do Cerrado, o projeto de lei que apresenta a iniciativa também propõe a “formação de professores e servidores da Secretaria de Educação, no sentido de aprofundar os conceitos e a execução de projetos de educação ambiental nas instituições de ensino”.

Conscientização
É comum ver o cidadão comum ser responsabilizado pelos graves (e às vezes irreversíveis) danos ao meio ambiente. Selecionar o lixo, reutilizar e reaproveitar tudo que for possível, reduzir o consumo de energia elétrica e de água são sim ações individuais importantes para a preservação do ecossistema. Entretanto, o grande vilão do meio ambiente no Brasil é o agronegócio, que atinge não só o Cerrado, mas todos os biomas do país. Aqui, o desmatamento promovido por esse seguimento é o maior motivador das emissões de dióxido de (trampolim do efeito-estufa). Ao mesmo tempo, a principal força no Congresso Nacional para pressionar a flexibilização da proteção ambiental é justamente a bancada ruralista.

Não é de hoje que a também chamada “bancada do boi” tem força política. Entretanto, foi com Bolsonaro que o agronegócio deslanchou.

Enquanto o Brasil voltou ao Mapa da Fome, o agronegócio bateu recordes de lucro e exportações, com participação também recorde no PIB brasileiro. Números esses viabilizados por uma política que suspendeu os processos de reforma agrária, de de ; que liberou como nunca antes agrotóxicos proibidos em outros países, e que abre caminho para todos os anseios de quem comanda o agronegócio.

O cenário caótico parece não ter saída. Mas para a educadora Socioambientalista Iolanda Rocha é preciso apostar no processo de conscientização, objetivo central da educação.

“A fomenta uma discussão de responsabilidade, de conscientização. Trabalhamos, só no DF, com 683 escolas. Se todas as escolas começarem a promover a discussão sobre o Cerrado, quantas mil pessoas teremos ouvindo o Cerrado, trabalhando pelo Cerrado, cuidando do Cerrado? É claro que é um processo longo, mas traz impactos significativos, como a conscientização do voto, por exemplo”, afirma a professora da rede pública de ensino do DF.

No artigo “Cerrado: berço das águas celeiro da ”, Iolanda Rocha lembra que, quando se trata de Cerrado, “mais de 50% da vegetação nativa já foi desmatada e substituída por monoculturas de soja e criação de gado”. “

Em se tratando de agrotóxicos, mais de 600 milhões de litros de venenos estão sendo jogados a cada ano nas áreas do Cerrado. Pesquisas da Federal do Mato Grosso comprovam que os impactos sobre a saúde humana e a já são percebidos, inclusive devido à utilização de agrotóxicos proibidos no Brasil”, traz trecho do artigo.

O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, ocupando quase toda Região Centro-Oeste. Ele está presente no DF e em 11 estados, e tem papel fundamental no abastecimento de água do Brasil.

Pressione

Para que a Câmara Legislativa do DF aprove o projeto de lei que insere a Semana do Cerrado no Calendário Letivo da Rede de Ensino do DF, é preciso que a sociedade pressione os parlamentares.

“Orientamos que toda nossa categoria participe dessa luta, enviando mensagens para os deputados da Câmara Legislativa cobrando a aprovação da proposta. Esse é um apelo que nós do Sinpro fazemos a toda sociedade. Sem meio ambiente não há vida. Precisamos iniciar agora ações mais conscientes, ou será tarde demais”, afirma a dirigente do Sinpro-DF Letícia Montandon.

Após a apresentação à CLDF, realizada nessa terça-feira (23/11), o PL da Semana do Cerrado será distribuído às comissões de Meio Ambiente, de Educação e, posteriormente, à de Constituição e Justiça. Se aprovado em todos esses espaços, segue para a apreciação do plenário da Casa.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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