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Uma semana que já dura cem anos. E abre caminhos para a arte brasileira

Uma semana que já dura cem anos. E abre caminhos para a arte brasileira

Uma semana que já dura cem anos. E abre caminhos para a

Como é a modernista que pintou em 1924?

Por Leila Kiyomura/via Portal vermelho

A metrópole que o público vai observar na mostra Modernismo. Destaques do na Pinacoteca de São Paulo, questiona os 468 anos da capital paulista. Com a paisagem definida por muitos como “caipira” e “ingênua”, Tarsila delineia o futuro e o progresso: os postes de , as bombas de gasolina, uma árvore com a copa arredondada e, ao fundo, o bonde, os prédios de diversos tamanhos e uma palmeira solitária.
Essa pintura, quase um século depois, encontra a São Paulo de hoje como a mais rica e moderna metrópole do País inserida na pandemia global. Mas, sob a luz da arte de 1922, busca o sentido histórico e cultural da São Paulo das pintoras Tarsila do Amaral e Anita Malfatti e dos escritores Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti Del Picchia, ou o resistente Grupo dos Cinco.

Jochen Volz, diretor-geral da Pinacoteca de São Paulo – Foto: Divulgação

“Nós, da Pinacoteca, acreditamos enfaticamente na necessidade de  uma reflexão crítica sobre a Semana de Arte Moderna de 1922″, comenta Jochen Volz, diretor da Pinacoteca. “Não interessa só a celebração e efeméride, mas sim uma revisita a partir de um ponto de vista dos dias atuais.”
Desde o início do ano passado, a Pinacoteca vem se mobilizando com uma programação para incentivar o pensamento crítico. De março a dezembro de 2021, realizou debates em parceria com o Instituto Moreira Salles e o Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP, que estão disponíveis em vídeos no site da Pinacoteca.
Curadores, pesquisadores e artistas do Brasil e de outros países apoiaram o evento que discutiu a importância da Semana de Arte Moderna, os seus valores estéticos e a sua influência até a contemporaneidade. “Ao mesmo tempo compreendemos como responsabilidade nossa, cem anos depois, no  meio da experiência de uma pandemia global, de uma polarização extrema da sociedade brasileira e de uma violenta perda de natural e cultural, perguntar o que podemos aprender com distintas visões do que é moderno. Quais são as linguagens que nos unem hoje?”, questiona Jochen Volz.
“O visitante tem um percurso em que observa, em diferentes salas, obras reunidas de 1920 até 1950, de diferentes movimentos, momentos e artistas.”
As 134 obras de Di Cavalcanti, Lasar Segall, Ismael Nery, entre outros modernistas, dividem o espaço com as mil obras do acervo de diferentes momentos para buscar e refletir a da arte brasileira. “Essa é uma mostra inserida em nosso acervo, em que sinalizamos as obras modernistas por meio de selos e adesivos, constituindo um panorama do movimento na primeira metade do século 20”, explica o curador sênior da Pinacoteca José Augusto Ribeiro, que é mestre em Teoria, e Crítica de Arte pela de Comunicações e Artes (ECA) da USP. “Elas estão em diferentes salas. O visitante tem um percurso em que observa obras reunidas de 1920 até 1950, de diferentes movimentos, momentos e artistas.”

São Paulo, Tarsila do Amaral, 1924- Acervo: Pinacoteca do Estado - Reprodução: Isabella Matheus
Bananal, Lasar Segall, 1927- Acervo: Pinacoteca do Estado - Reprodução: Isabella Matheus
Antropofagia, Tarsila do Amaral, 1929 - Acervo: Fundação José e Paulina Nemirovsky em comodato com a Pinacoteca do Estado, Divulgação
Amigos, Di Cavalcanti, 1921 - Acervo: Pinacoteca do Estado. Reprodução: Isabella Matheus
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José Augusto Ribeiro, curador da Pinacoteca – Foto: Acervo pessoal

Ribeiro explica que a mostra Modernismo. Destaques do Acervo traz uma análise sobre a Semana de 1922 não só como uma efeméride, mas para levantar hipóteses e considerar as produções prévias e posteriores da Semana de 1922. “É importante pensar a Semana de 22 como parte de um processo cultural, um catalisador de energia em busca de transformação, uma mobilização de artistas intelectuais procurando uma renovação de linguagem, e pensar isso dentro de uma perspectiva histórica.”
As obras estão organizadas em 19 salas. Destacam-se: Antropofagia, de Tarsila do Amaral, na sala 6, Auto-Retrato, de Victor Brecheret, na sala 1, Bananal, de Lasar Segall, na sala 19, Casal na Varanda, de Cícero Dias, na sala 16, Dois Irmãos, de Ismael Nery, na sala 15, Portadora de Perfume, de Victor Brecheret, no átrio de esculturas, Retrato de Goffredo da Telles, de Lasar Segall, na sala 16, e São Paulo, de Tarsila do Amaral, na sala 10.
A exposição Modernismo. Destaques do Acervo está em cartaz até 31 de dezembro, de quarta a segunda-feira, das 10 às 18 horas, na Pinacoteca do Estado de São Paulo (Praça da Luz, 2, centro, em São Paulo). O ingresso custa R$ 20,00 (inteira). É necessário apresentar passaporte de vacinação contra a covid-19. Reservas podem ser feitas no site da Pinacoteca.
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

revista 119

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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