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UnB: importante papel para a produção e disseminação de conhecimento sobre o bioma Cerrado

UnB: importante papel para a produção e disseminação de conhecimento sobre o bioma Cerrado

Coleções científicas da UnB incentivam pesquisa e divulgação do Cerrado

tem diferentes acervos sobre o bioma, sobretudo ligados às ciências da vida e da . Espaços virtuais também dão visibilidade à temática

Por Carolina Pires/Secom UnB

Nesta semana do Cerrado, você conhece mais sobre estudos da Universidade de Brasília em torno do bioma. Marcado por contradições, o segundo maior ecossistema brasileiro é também um dos mais ameaçados. Considerada a savana mais rica do mundo e o , por abastecer grandes aquíferos e bacias hidrográficas, ele já perdeu pelo menos metade de sua vegetação nativa e apenas 8% da área total do seu território é legalmente protegida em unidades de conservação.

A triste realidade do Cerrado contrasta com as iniciativas de ensino, pesquisa e extensão que contribuem para a sua preservação. Situada no coração do Centro-Oeste, a UnB desempenha desde sua criação importante papel para a produção e disseminação de conhecimento sobre a região.

Prova disso são as inúmeras coleções de história natural que a Universidade abriga e que constituem grandes fontes de pesquisa sobre o bioma. Só no Instituto de Ciências Biológicas (IB), por exemplo, existe uma dezena de coleções, que servem para atividades de ensino e pesquisa na instituição.

Na área da Zoologia, há acervos de diferentes tipos de animais, como aves, mamíferos, insetos, aranhas, invertebrados aquáticos, cupins, peixes, répteis e anfíbios. Na Botânica está o maior herbário universitário do país e o maior do mundo na área do Cerrado. Outra coleção com bastante expressividade é a micológica – de fungos.

O museu do Instituto de Geociências (IG) conta com acervo específico de rochas e solos, bem como uma variedade de material disponível em laboratórios de pesquisa. Para ilustrar e conhecer um pouco mais desse patrimônio da Universidade, a equipe da Secretaria de Comunicação visitou alguns desses acervos.

06set19 diadocerradoacervocolecoes print siteACERVOS NUMEROSOS – Com 80 mil exemplares, a coleção de répteis e anfíbios da UnB é a quarta do país e a maior do mundo sobre a herpetofauna do Cerrado. Os animais ficam conservados no álcool, organizados em vidros fechados de acordo com a espécie.

O espaço também abriga amostras de tecidos (normalmente de fígado ou músculo), utilizadas em estudos genéticos e moleculares. Nesse caso, todas as amostras – cerca de 20 mil – estão acondicionadas em freezers com temperaturas que chegam a -80º C.

O primeiro fungo do Cerrado foi descrito em 1993 e desde então foi criada a coleção micológica, que hoje contempla 25 mil amostras de diferentes espécies. “São exemplares de folhas e ramos de plantas de fungos crescendo nelas. Sendo uma média de três por amostra, temos ao menos 70 mil representativos”, informa o professor aposentado José Carmine Dianese, primeiro coordenador do espaço.

A coleção tem representantes de fungos de todos os parques nacionais localizados no Cerrado, como a Chapada dos Veadeiros, o Parque Nacional de Brasília, a Estação Ecológica das Águas Emendadas, a Chapada dos Guimarães, o Parque Grande Sertão Veredas, a Fazenda Água Limpa.

“É um material precioso e muito representativo dessa região brasileira, é fruto de anos de coleta e trabalho de campo. Nós tivemos expedição, por exemplo, no Piauí, em áreas de fronteira e de transição entre o Cerrado e a Caatinga, quando se iniciava o cultivo da na região”, ressalta Dianese.

Uma das coleções mais antigas, o Herbário da UnB existe desde 1963, criado apenas um ano após a fundação da Universidade. Curadora do acervo, a professora Carolyn Proença explica que na época foram estabelecidos convênios com grandes instituições do mundo, como os jardins botânicos de Nova Iorque, nos Estados Unidos, e de Kew, na Inglaterra.

“Vários botânicos famosos do e de outros países vieram e ajudaram nas coletas e outras contribuições ao acervo, que hoje tem mais de 320 mil exemplares”, conta a docente. Este é o único herbário de uma universidade a figurar na lista dos dez maiores do país.

Pedro Aquino, doutor em e biólogo do IB, é responsável pela coleção de peixes da instituição [foto de abertura da matéria]. Ele detalha que o estudo dos peixes no Cerrado é relativamente recente, mas vem crescendo nas últimas décadas.

Como o Distrito Federal está em áreas altas, muitas espécies são endêmicas e só ocorrem na região, como o peixe pirá-Brasília (Simpsonichthys boitonei) descrito na década de 1960. Coletado em 2007, no Distrito Federal, o peixe Ituglanis goya da família Trichomycteridae, por exemplo, é uma espécie recentemente descrita que confere significativa importância para o acervo.

PESQUISAS – Pesquisadores da UnB já descreveram mais de 150 espécies novas de fungos para a , além de 20 novos gêneros e até mesmo uma família completa. O estudo referente a esta última foi publicado recentemente na revista Mycologia, da Sociedade Americana de Micologia (MSA). Por sua particularidade, a coleção micológica tem importantes colaborações internacionais.

Segundo José Dianese, com a introdução de nova tecnologia na área molecular, os trabalhos de micologia do Cerrado assumiram um patamar mais elevado, “sempre com base no acervo de alta qualidade tombado na Coleção Micológica da UnB, um verdadeiro patrimônio biológico, de inestimável valor”.

Na opinião do professor Guarino Colli, que administra a coleção de répteis e anfíbios, as coleções contribuem com as pesquisas sobre a biodiversidade, tendo em vista que possibilitam compreender diferentes aspectos sobre a origem, distribuição e conservação das espécies.

“Isso é importante para entender a diversidade, como também na definição de áreas que devem ser consideradas prioritárias para preservação; além de impacto de empreendimentos, construção de rodovias, hidroelétricas, linhas de transmissão”, exemplifica.

O Museu de Geociências da UnB conta com uma vitrine específica de amostras de rochas e solos do Distrito Federal, disponível não apenas para atividades extensionistas como também de pesquisa. De acordo com o vice-chefe do Museu, o professor Ricardo Pinto, diversos estudos são desenvolvidos a partir desses exemplares.

“Ao descrever as rochas e fósseis, pode-se entender como se formou o solo do Cerrado e contar o seu passado. Há evidências de estromatólitos encontrados na região que indicam que houve, em outros períodos do , ambiente marinho aqui.”

Uma novidade é a exposição dedicada aos artefatos arqueológicos da região, consolidada a partir de uma parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que direciona material arqueológico coletado no DF – em escavações para pesquisas ou durante grandes obras – para o museu da UnB.

 

DESAFIOS – A importância dessas coleções vai além da pesquisa realizada na própria Universidade. Todos os acervos mantêm parcerias com outras instituições de ensino e pesquisa, realizando troca de material e empréstimo de amostras para pesquisadores de todos os cantos do país e do mundo.

Problema comum é a manutenção desses espaços, que exigem cuidado especial para a preservação do material e com isso têm um alto custo. Além de uma infraestrutura muito específica, ainda é preciso fazer constantemente reposições de material e conserto de equipamentos.

“Aqui todo nosso material está conservado em álcool, o que exige determinado tipo de condicionamento e equipamentos para minimizar o risco de incêndios”, relata Colli. Segundo o pesquisador, a porta contra incêndio foi comprada com recursos próprios de projetos de pesquisa.

A professora Carolyn Proença também conta que a falta da função de um curador específico para o Herbário também torna o trabalho de manutenção muito difícil, uma vez que é preciso conciliar as demandas do local com as atividades docentes.

CERRADO ONLINE – Além dos espaços físicos, diversas plataformas também buscam promover o conhecimento sobre o Cerrado para o público externo e a sociedade em geral. Este é o caso do Museu do Cerrado, portal criado em junho de 2017. Com informações sobre o bioma, tem caráter interdisciplinar e envolve o ensino, a pesquisa e a extensão, reunindo conjunto amplo de materiais nos campos das artes, letras, educação, fitoterapia, gastronomia e turismo.

“O museu é virtual e colaborativo, pois ele cresce na medida em que todo indivíduo, coletivo ou instituição, queira colaborar com informações, artigos, conhecimentos”, explicita a curadora, professora Rosângela Corrêa, da Faculdade de Educação. Desde 2018, o Museu do Cerrado tornou-se um projeto de extensão onde colaboram estudantes de vários cursos: Pedagogia, Museologia, Biologia, Gestão Ambiental, Jornalismo, Letras e Turismo.

Uma das ações inovadoras é o EcoMuseu do Cerrado Laís Aderne, que traz nova abordagem da museologia e envolve a tríade território, patrimônio e comunidade. “É um museu vivo de pessoas que mostram a sua cara, a sua e a natureza em que estão inseridas, que é o Cerrado.”

A expectativa é que a ferramenta possa contribuir com as atividades de preservação, pesquisa e difusão do acervo ecológico, arqueológico e cultural das dos povos do Cerrado. Interessados em colaborar podem entrar em contato pelo e-mail museudocerrado.unb@gmail.com. A equipe também mantém um perfil em rede social.

Fonte: UnB Notícias 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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