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UnB: O projeto mais ambicioso da intelectualidade brasileira

UNB: O PROJETO MAIS AMBICIOSO DA INTELECTUALIDADE BRASILEIRA

UnB: O projeto mais ambicioso da intelectualidade brasileira

Que Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira são os pais da UnB, não há dúvida; mas isso não é dizer tudo. Na realidade, foram eles os idealizadores e gestores de sua implantação, mas muitas outras pessoas puseram o “ombro no andor”, no dizer do próprio Darcy.

Por A.P. Filomeno

Na verdade, a UnB foi o projeto mais audacioso e ambicioso da intelectualidade brasileira. Entre 1950 e 1961, a criação da Universidade de Brasília constituiu-se no debate preferido pelos intelectuais que viam naquela ideia um projeto viável.

Em 1958, Juscelino Kubitscheck criou por decreto uma comissão para projetar a UnB, composta por Darcy, Oscar Niemeyer e Ciro dos Anjos. A elite intelectual das universidades da época, formada por catedráticos tradicionais, não via com bons olhos as mudanças anunciadas.

Não só os catedráticos bombardeavam a ideia, mas também políticos de influência e prestígio como Israel Pinheiro, para quem manifestações estudantis e operárias eram pragas que deveriam ser combatidas, uma vez que poderiam atrapalhar o projeto de implantação da nova capital. Israel combateu o quanto pôde a ideia de criação da UnB. Não foi fácil, portanto, vencer aquele homem obstinado. Chegou até a sugerir como local um terreno a sete ou oito quilômetros de Brasília para a construção do campus.

Por ocasião da publicação do plano diretor, com sugestões dadas por diversos intelectuais, criou-se um vivo debate em todos os segmentos culturais do país, que sacudiu os alicerces empoeirados das velhas universidades. Era a UnB que já nascia polêmica.

Estabeleceram-se então claramente os partidários da nova ideia – estudantes, professores, intelectuais – e os que se opunham tenazmente a ela, para quem o melhor era continuar tudo como estava.

Uma grande adversária foi parte da própria igreja católica, ou melhor, os dirigentes da Companhia de Jesus, que tentavam implantar em Brasília a Universidade Católica. Argumentavam com JK que na capital americana a principal universidade era católica. (…) Juscelino, para não desagradar o clero poderoso dos Jesuítas, chegou a vacilar.

Não fosse a tenacidade e a esperteza de Darcy Ribeiro, talvez a UnB não tivesse saído do papel. Aliar-se aos Dominicanos, tradicionais opositores dos Jesuítas, e implantar no campus o Instituto de Teologia, foi a saída proposta por Darcy. Frei Mateus, Geral da Ordem, aceitou a ideia e foi para Roma, de onde voltou com a aprovação do Papa João XXIII.

Darcy e seus auxiliares conseguiram com isso provocar críticas principalmente ente os anticlericais declarados, que os acusaram de traição ideológica, já que viam no projeto não só uma dicotomia ou paralelismo de ações entre a Universidade o Instituto Teológico projetado, como também receavam uma volta ao passado.

As Universidades Católicas, desde épocas remotas, ditavam os padrões de ensino. Os argumentos de Darcy a favor do princípio de não duplicação, isto é, nenhum curso seria ministrado em paralelo entre o Instituto Teológico e a Universidade pareceram surtir efeito.

Outro argumento forte era a ideia de unificar ou aproximar alguns segmentos da intelectualidade universitária, entre os quais o sacerdotal e o militar, fontes de frequentes e prejudiciais polêmicas, em um programa co-participativo.

De nada adiantaram os esforços. Anos depois, quando a Universidade foi invadida pelas tropas mineiras, o único prédio destruído fisicamente foi o da Teologia, belíssima obra de Oscar Niemeyer. Obviamente, o convênio da Universidade com os dominicanos foi anulado.

Apesar de todos esses percalços, o projeto de criação da UnB foi enviado por JK ao Congresso Nacional pelo Ministro da Educação Clovis Salgado. Durante a tramitação na Câmara, Jânio Quadros assumiu a Presidência da República. Novos esforços foram feitos para agilizar o encaminhamento do projeto, graças à tenacidade de José Aparecido e Carlos Castelo Branco.

Na Câmara, o projeto encontrou resistências significativas, principalmente da oposição udenista, que argumentava não só contra o volume de recursos destinados, mas principalmente contra a autonomia conferida pelo estatuto da Fundação.

Após o difícil debate, o projeto não conseguiu ser aprovado devido à renúncia de Jânio Quadros. Darcy correu para a Câmara dos Deputados com medo de que a crise instaurada acabasse por fechar o parlamento.

Em meio à tumultuada sessão que acatou o pedido de renúncia, o projeto foi encaixado na ordem do dia em 18º lugar, graças aos esforços de Sérgio Magalhães, presidente da sessão. Após intensa discussão, o projeto foi aprovado por significativa maioria.

A etapa seguinte, no Senado, consumiu meses de esforços. A principal questão levantada era como um intelectual marxista poderia projetar uma Universidade que não fosse marxista, e como, não sendo marxista, o Senado poderia aprová-la. A batalha foi ganha. Vencida a luta, veio a angústia da implantação da UnB, já criada por lei em fins de 1961.

Darcy foi o reitor e Anísio Teixeira o vice. Graças aos esforços de Anísio, transferindo recursos do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos à Fundação Universidade de Brasília, a UnB pôde inaugurar seus primeiros cursos experimentais em março de 1962, e que funcionariam provisoriamente em dois andares de um Ministério da Esplanada.

As verbas oficiais destinadas por lei foram recebidas muito tempo depois. Nascia a UnB.

Como devem ter sido heroicos aqueles tempos pioneiros.  A luta, o entusiasmo, as barreiras sendo vencidas, e principalmente a derrocada dos opositores anacrônicos, presos ao passado e a outros interesses, avessos ao pioneirismo que Brasília exigia.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

revista 119

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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