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Ela morava na vila com chão batido…

Ela morava na vila com chão batido…

Por Anaí Oliveira Soares

Ela morava na vila com chão batido,

Dias de chuva e barro impedindo de andar…

Caminhava de três a quatro quadras para pegar o ônibus…

Sim, não tinha como ele passar na sua rua…

Azar de quem vivesse assim…

Daí veio um partidinho qualquer

e colocou asfalto em sua rua

e conseguiu arrumar para que passasse o bus

e ela pudesse descer em frente da casa

ou bem mais próximo …

Mas acharam bobagem e enrolação

do partidinho, pois asfalto é barato…

E por quê não fizeram?

Porque essas vidas não contam,

não merecem viver com dignidade…

Só sabem que não tem

que estar no horário

para satisfazer os caprichos dos patrões…

Azar que volte tarde,

que não haja iluminação…

Que corra o risco de ser assaltada

e outras atrocidades…

“Os irmãos entendem”…

Mas que fiquem por lá…

Que não venham sujar o nosso asfalto…

Mas esse partidinho mostrou que

eles são gente e devem ser

tratados como tal…

Deram asfalto, iluminação,

direito ao conhecimento,

autonomia em suas decisões…

Absurdo, deram voz a essa gente

que “sabia o seu lugar”…

Sim, sabiam servir

sem saber que poderiam mais…

E agora?

Estão em toda parte…

Que absurdo,

na faculdade, na ,

Estão reivindicando…

Estão se posicionando…

Vamos usar a nossa maior aliada

para derrubar esse partidinho

que mostrou para o

o seu verdadeiro valor…

Vamos usar a mídia

que derruba com seus programas,

com seus jornais…

Vamos precisar de juízes e

“cidadãos de bem” para colocar

ordem na nação…

Vamos usar os fakes nas redes

para estimular todo tipo de ódio

disfarçado de “moralidade”…

Vamos manipular os vídeos e

mostrar apenas o que nos convém…

Afinal as pessoas não estão

interessadas na veraciddade

dos fatos,

mas apenas em não perder

privilégios…

Vamos dividir as classes

e vamos deixar a classe média pensar

que é elite…

E ela e seu “bando” que achavam

que teriam vez

que voltem para o seu gueto

e nos deixem roubar em paz…

E esse partidinho

que ousou dar voz ao povo

que a gente manche cada vez mais

para nunca mais ensinar

que é possível

É assim que eu vejo

essa nojeira toda…

Mas também sei que não iremos mais

nos calar…

Descobrimos que temos vozes

e que somos,..

Somos seres

que merecemos

o conhecimento,

viver com dignidade,

ocupar o que é nosso…

Margaridas dino.com .brFoto: dino.com.br

Texto atribuído a Anaí Oliveira Soares, em grupos de zap. Impossível confirmar a autoria. Também impossível verificar a métrica, uma vez que o mesmo texto aparece em vários grupos com edição variada.


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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