"Você sabe se preto entra no céu?"

Você sabe se preto entra no céu?

Você sabe se preto entra no céu?

Encontro um ex-aluno que me pergunta: “prof vc que é interado das coisas, sabe se preto entra no céu?” Na hora me lembrei do cantor Chico César e respondi: não sei, mas o cantor Chico César diz que alma não tem cor.

Por Marcos Jorge Dias

E perguntei: por quê? Ele respondeu: “um bacana foi lavar o carro onde que eu e me disse que era pra eu lavar direito se não quando o candidato dele for presidente ele me manda pro inferno.

Eu trabalho, ajudo minha mãe, não sou de facção nenhuma, nem fumo merla, as vezes vou no culto com minha vó e o cara dizendo que vai me mandar pro inferno! Será que é porque eu sou preto?”

As lágrimas vieram, mas virei o rosto e disse para ele: ah! Vota no Haddad, faz faculdade de direito e quem sabe vc será o advogado que vai tirar esse bundão da cadeia. É mesmo, disse ele. E foi embora sorrindo.

Marcos Dias

Moa 3 Congo de Ouro

Encontrei, e me emocionei, com este curto, doído e necessário na página do , poeta e escritor acreano Marcos Dias no Facebook.

Nesses tempos tão difíceis de intolerância e preconceito, oxalá pequenos depoimentos como este do Marcos possam nos ajudar a refletir sobre o rumo para onde essa fascista quer levar nosso país.

Um exemplo dessa insanidade é o assassinato do mestre da capoeira Romualdo Rosário da Costa (29/10/ 1954 – 8/10/2018) , o  Moa do Katendê, tirado da roda por um golpe fatal de um eleitor do coiso, apenas por declarar voto em Fernando Haddad.

O compositor, dançarino, capoeirista, ogã-percussionista, artesão e educador na propagação da . pagou com o vida a “ousadia” de se expressar livremente  nesse momento em vemos, estupefatos, o sonho da paz ceder lugar à apologia das armas.

E, pior, não é só apologia: nesta primeira semana de maio de 2019, o Coiso liberou, por decreto presidencial, o porte de armas no .  Há reações por todo lado, o que não sabemos é se conseguirão deter a barbárie.


Salve! Pra você que chegou até aqui, nossa gratidão! Agradecemos especialmente porque sua parceria fortalece  este nosso veículo de independente, dedicado a garantir um espaço de pra quem não tem vez nem voz neste nosso injusto de diferenças e desigualdades. Você pode apoiar nosso trabalho comprando um produto na nossa Loja Xapuri  ou fazendo uma doação de qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Contamos com você!

P.S. Segue nosso WhatsApp61 9 99611193, caso você queira falar conosco a qualquer hora, a qualquer dia. GRATIDÃO!

 

[smartslider3 slider=13]


E-Books


[smartslider3 slider=17]


 

Deixe seu comentário

UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

PARCERIAS

CONTATO

logo xapuri

REVISTA