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Yandê: A primeira rádio indígena online do Brasil

Yandê: A primeira rádio indígena online do Brasil

Na programação da rádio criada por três amigos rolam sons produzidos por membros das mais diferentes etnias indígenas.

Por Débora Lopes
Caiu no ostracismo a ideia de que indígenas só fazem tradicional. Isso é tão antigo quanto o que aprendemos sobre os índios nos tempos de . Hoje, eles produzem e cantam rap, rock, dub e, aqui no Brasil, até MPB e forró. Prova viva são as diferentes nacionalidades, línguas e etnias que se misturam na programação da Yandê, a primeira rádio indígena online do Brasil.

A pedido do Noisey, a equipe da rádio montou uma playlist pra qualquer não-indígena entender como funciona a programação da Yandê, que vai do rap chileno até uma parceria da cantora maranhense Zahy Guajajara com o coletivo Digitaldubs. (Ouça os sons no final da matéria.)

A iniciativa de criar a Yandê partiu de três amigos que já tinham experiência em ONGs, coletivos e blogs relacionados ao tema: Anápuáka Tupinambá, Renata Tupinambá e Denilson Baniwa. Três indígenas protagonizando seu próprio resgate cultural e produzindo conteúdo para outros indígenas. E tudo é feito de maneira autônoma, bancando os custos do próprio bolso. frank waln foto de bailey rebecca robert O rapper norte-americano Frank Waln, da etnia Lakota. Foto: Bailey Rebecca Roberts/ Divulgação
“Essa é novidade para muita gente”, afirma Renata, que é jornalista. “Como todas as sociedades no , passamos por mudanças e transformações, mantendo o tradicional mas também trazendo o novo.”
A programação musical da Yandê é abrangente e traz artistas de todos os tipos, como o produtor e rapper norte-americano Frank Waln, da etnia Lakota, e a cantora amazonense Djuena Tikuna.
O jornalismo também tem espaço na grade da rádio: notícias indígenas são trazidas por correspondentes, que ficam em Brasília e no Mato Grosso. Além disso, existem outros 70 colaboradores pelo país. “A Yandê acredita na autonomia dos povos e sonha ver todos produzindo seus próprios conteúdos”, finaliza Renata.

Abaixo, você saca a playlist que a galera da rádio montou pro Noisey com alguns comentários sobre os artistas e as músicas. Curte aí.

“Rapper da etnia Lakota, dos , que trabalha as letras de suas músicas para combater preconceitos e mostrar realidade de seu povo.”
“Zahy é uma cantora da etnia Guajajara, do .

 
A cantora maranhense Zahy Guajajara, que gravou junto com o coletivo Digitaldubs. Foto: George Magaraia
Digitaldubs Sound System é o principal coletivo representante da sound system no Brasil.”

“Djuena é a cantora indígena mais famosa nacionalmente. Ela é da etnia Tikuna, do .”

“Grupo de rappers da etnia Kaiowá, do Mato Grosso do Sul.”

“Um dos cantores indígenas mais conhecidos. Wakay é filho de Kariri com Fulni-ô. Ele canta na yathé do povo Fulni-ô.”

“Mokuká kayapó Mebengokré, da aldeia Moikarakô – TI Kayapó (PA).”

“Ana Luiza e Gean Ramos são cantores indígenas da etnia Pankararu de Pernambuco.”

“Rapper indígena do povo Mapuche no Chile.”
Fonte: Vice

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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