Por Natália Loyola de Macedo
Da Página do MST 

Como forma de resistir ao cenário político atual, mulheres indígenas resolveram agregar movimentos. A primeira Marcha das Mulheres Indígenas vai acontecer simultaneamente com a Marcha das Margaridas. O objetivo é levar o maior número de pessoas, sobretudo, mulheres, à Brasília para reivindicar direitos e lutar contra retrocessos. A estimativa é que a capital do país receba aproximadamente 100 mil pessoas nos dias 13 e 14 de agosto. O primeiro dia de ação será destinado às autóctones e aos simpatizantes de suas lutas. No dia seguinte, acontecerá a popular Marcha das Margaridas.

Assassinada por um latifundiário, em 12 de agosto de 1983, a história de Margarida incentivou a organização do movimento que viria a ser a maior ação de mulheres da América Latina. A frase “É melhor morrer na luta do que morrer de fome”, de Margarida, ganhou corpo e hoje reúne em Brasília mulheres da terra, das águas e das florestas.

Durante o Acampamento Terra Livre (ATL), realizado em abril, decidiu-se a união das lutas. Há anos que a Marcha das Margaridas vem ampliando as demandas das mulheres trabalhadoras e excluídas da sociedade brasileira a fim de democratizar a ação e torná-la mais incisiva. O Fórum Nacional das Mulheres Indígenas terá início no dia 9 de agosto. A ideia é discutir questões levantadas na ATL deste ano. A programação ainda não está disponível.

“O Fórum vai abrir um espaço às questões que nós temos que dar como prioridade dentro de tudo o que a gente vai fazer. Ouvir das mulheres o que elas estão trazendo “de dentro” de seus estados e municípios. E o que elas têm de avanço, o que elas têm de desafio. Estaremos coletando […] até para o próprio governo, para ele, colocar como política pública. Porque o governo não está tendo o trabalho de trazer as mulheres e nós estamos indo até o governo para apresentar as nossas demandas.”, explica Rosimere Teles, povo Arapaço da terra indígena Alto , no , membro da coordenação da União das Mulheres Indígenas da Brasileira (UMAB).

WhatsApp Image 2019-08-08 at 15.43.14 (1).jpeg

De acordo com as pautas levantadas na plenária do ATL, o lema da primeira Marcha “Território: nosso corpo, nosso espírito” tende a levar questões que são imprescindíveis na luta pela proteção e manutenção do território através do olhar sustentável das mulheres indígenas.

Além disso, também traça como objetivo trabalhar temas que relacionados à e , assuntos que têm demandado maior cautela devido ao desmonte projetado e executado pelo governo Bolsonaro. A Secretaria Especial de Saúde Indígena, órgão fundamental no tratamento qualificado aos , por exemplo, vem sofrendo dificuldades na sua execução.

O slogan escolhido procura representar o que é essencial na vida das mulheres indígenas. “Porque nosso corpo tem a ver com território? Porque a terra é parte das nossas vidas. Tudo dependemos da Natureza. Tudo existe nela.”, comenta Rosimere. Além disso, completa dizendo que o território é local onde se constrói moradias e produz alimentos, e que os espíritos dos têm lugares sagrados. Rosimere também alerta que cuidar da mãe terra é o mesmo que cuidar do corpo.

Ro'Otsitsina Xavante, liderança indígena, em entrevista ao El País, afirmou que questões de gênero chegam com timidez à Marcha, mas que os temas vêm ganhando espaço no debate público com decorrer do tempo. Devido às distinções culturais e temporais, a condição da mulher indígena é tratada com maior cautela a fim de respeitar as peculiaridades de cada povo e não alimentar o processo de colonização atual. “Nós mulheres não somos parte do povo, nós somos o povo. Então, violando uma menina, violando uma mulher, você está violando o povo.”, enfatiza Ro'Otsitsina Xavante.

Oficinas cumprem o papel de levar discussões sobre e abuso sexual contra mulheres originárias às maiores interessadas. Elas estão no processo de compreender o que é e de que forma operam determinadas agressões. Há forte crescimento de violência contra os povos indígenas no país e as maiores vítimas acabam sendo mulheres e crianças.

No , existem organizações de mulheres indígenas como a Associação das Guerreiras Indígenas de Rondônia; União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira; Movimenta de Mulheres do Xingu; entre outras. Mas, pela primeira vez, o país terá uma ação organizada a nível nacional para que mulheres indígenas levem pautas ambientais, trabalhistas e de direitos humanos até a capital do país.

Com o lema “Margaridas na luta por um Brasil com soberania popular, democracia, justiça, igualdade e livre de violência”, os dias 13 e 14 ficam destinados a mais uma edição da Marcha das Margaridas que ocorre uma vez a cada quatro anos desde o ano 2000. O movimento busca combater as diferentes formas de violência cometidas às mulheres rurais e vem se tornando cada vez mais democrático ao oferecer espaço para vozes das florestas e das águas.

A segunda semana de agosto vem para que mulheres originárias do Brasil, junto às camponesas, pessoas responsáveis por produzir o alimento que a (o) brasileira (o) tem na mesa, resistam contra o processo colonizador atual na busca por mais visibilidade e respeito na sociedade.

[smartslider3 slider=39]