7ª Marcha das Margaridas retorna a Brasília neste mês
A 7° Marcha das Margaridas ocorrerá nos dias 15 e 16 de agosto, em Brasília, no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade.
Por Xepa/Mídia Ninja
Organizada a cada quatro anos, a 7° Marcha das Margaridas ocorrerá nos dias 15 e 16 de agosto, em Brasília, no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, reunindo cerca de 100 mil mulheres do campo, das florestas, das águas e das cidades sob o lema “Pela reconstrução do Brasil e pelo Bem Viver”, na luta pela democracia e a reconstrução da esperança para o povo brasileiro.
A mobilização deste ano acontece em um momento muito importante da história, tendo em vista que a última marcha ocorreu em 2019, primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro (PL). Assim, a próxima edição da maior ação de mulheres da América Latina marca, também, o novo momento político em que vive o povo brasileiro. Por isso, o lema da marcha enfatiza esse momento de reconstrução.
A capital do país receberá milhares de trabalhadoras que garantem a segurança alimentar, o crescimento econômico e o desenvolvimento social do nosso país, mulheres que marcam a política brasileira, mesmo que essas, sendo 50% da população, ainda sejam minoria nos espaços de direção dos sindicatos, partidos políticos, governos e demais esferas de poder devido à desigualdade no sistema de disputa, feito por e para os homens.
O bem viver entra na trajetória das margaridas justamente apontando para as questões centrais que precisam ser construídas e reconstruídas nesse novo cenário. A luta coletiva emana por modos de fortalecimento da soberania e segurança alimentar e nutricional, assim como pela participação das mulheres na política e nos espaços de decisões e que as mulheres do campo, da floresta e das águas tenham autonomia sobre seus corpos-territórios, a fim de cultivar relações em que o cuidado e os afetos sejam resguardados por todas e todos.
“Somamos às companheiras urbanas para defender um país onde as mulheres sejam respeitadas, mas, sobretudo, no qual possam ocupar espaços de poder e decisão. E seguimos defendendo a agroecologia, reforma agrária, nossos territórios e bens comuns, como a biodiversidade. São temas presentes na plataforma política da Marcha das Margaridas”, afirma a coordenadora geral da marcha, Mazé Morais.
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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