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A alegria voltou

A alegria voltou
 
Foram dois anos sem folia, sem a gostosa ressaca da grande festa popular, o , por causa de um minúsculo vírus que nos jogou para o confinamento, o enclausuramento dentro das nossas casas, nos envolvemos em fantasmas produzidos pelo pensamento, a mente ficou insana.
 
Por Lucia Pedreira
 
Nono bloco nao e nao 3
 
Agora, debaixo da chuva ou do sol inclemente fomos festejar nas ruas. “Eu quero é  botar meu Bloco na rua… brincar, botar pra gemer…” diz Sérgio Sampaio, na famosa marchinha carnavalesca. Abrimos os braços para os abraços apertados e festejar dias felizes, melhores, cheios de esperança. O verbo é esperançar.
 
Houve saudade da festa não realizada. Fomos para as ruas recuperar o tempo perdido, o de cinco dias que se vai no final da folia, sem deixar endereço e nem beijo de despedida.
 
O Carnaval deixa lembranças boas para sonhar no embalo das noites preguiçosas, o cansaço feliz de não ter arrependimento por exagerar na diversão, pés machucados de tanto sambar, porque quem gosta de folia, de marchinhas, de , se entrega de corpo e , como se não houvesse amanhã.  “Este ano, não foi igual aquele que passou,  eu não brinquei, você também não brincou…”
 
Fantasias, purpurinas, confetes e serpentinas saíram das gavetas. Houve brilho, enredos contra a importunação sexual, contra o , homossexualidade, resgates culturais, memórias, as estão mais empoderadas, somos matriarcas.
 
Os sambódromos, as ruas, de norte a sul do país, voltaram a se colorir, nos carros alegóricos, nas fantasias. Aplaudimos o erotismo da dança, dos corpos sensuais; os deslumbrantes acessórios carnavalescos. Houve encontros, abraços e beijos. O planeta mudou.
 
A luta pela igualdade social por um mais humano, mais fraterno, derruba barreiras. A ciência trouxe luz, o brilho do Carnaval é real. As máscaras foram substituídas por outras cheias de glamour. Voltamos a rir, dar gargalhadas, é a alegria de Viver.
 
Lucia Pedreira – Jornalista -Goiânia-. Matéria gentilmente enviada por – Laurenice Noleto Alves, Conselheira da . Todas as imagens são do Bloco  Não é Não, de Goiânia, cedidas por Nonô Noleto. 
 
Nono Bloco nao e nao 2

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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