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Um sábio guardião da floresta

Um sábio guardião da floresta

Um dia desses visitei a Reserva Extrativista Chico Mendes, para ver de perto uma experiência, digamos, “sustentável”, que o conhecido Raimundo Mendes Barros, o Raimundão, primo de Chico Mendes, desenvolve por conta própria na Comunidade Rio Branco, no Seringal Floresta.

Por Elson Martins

Raimundão teve participação destacada nas lutas históricas que os seringueiros, ribeirinhos, agricultores e índios empreenderam nos anos 1970 e 1980 para manter a floresta acreana em pé. Hoje, desenvolve várias atividades na parte que lhe coube (sua colocação tem cerca de 600 hectares) da área conquistada pelo movimento revolucionário que emergiu no Acre a partir dos anos 1970. 

O valente e desprendido seringueiro, já setentão, continua empenhado em provar o que o primo assassinado em 1988 sempre defendeu: é possível viver bem na (e da) floresta sem destruí-la. Além do látex que produz, mantém um pequeno, mas produtivo roçado com mandioca, milho, feijão e banana; o plantio de seringueiras e outras espécies valorizadas de árvores; e muitas fruteiras em volta da casa.

Caminhando pela colocação de Raimundão, encontramos alguns macacos zog-zog pendurados em galhos altos, que de algum modo integram a família do extrativista. Para comprovar isso, ele os chamou pelo nome e os bichinhos se aproximaram, nem tanto quanto ele gostaria, por causa das visitas. Ninguém duvide, porém, que esse seringueiro velho e sábio não acabe aproximando, mais do que possamos imaginar, homens e animais na floresta.

RESERVA EXTRATIVISTA CHICO MENDES

A Reserva Extrativista Chico Mendes, onde viveu Chico Mendes, é a maior do estado do Acre, com área de 970.570 hectares, onde vivem cerca de 10 mil pessoas. Abrange sete municípios, 46 seringais e 76 núcleos de base. Por ser uma reserva federal, a Resex é administrada e fiscalizada pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), originado da divisão do Ibama, em 2007. As famílias extrativistas estão organizadas em cinco Associações Concessionárias que, junto com o ICMBio, decidem que tipo de ações podem ser aplicadas dentro da reserva. Embora seja uma grande conquista do CNS e do movimento extrativista, a Resex Chico Mendes encontra-se hoje ameaçada pela pressão da pecuária, da exploração ilegal de madeira e, mais recentemente, do narcotráfico. 

Fazer uma caixa ou colocar uma cor de fundo no texto da Reserva Chico Mendes.

Elson Martins conselho editorial 1Elson Martins – Jornalista. Escritor, autor de Acre: Um estado de espírito. Editora Xapuri, 2022. Texto publicado em 2022, editado por limitação de espaço. 

 
 
 
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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