moqueca de peixe

MOQUECA DE PEIXE DA NOSSA HERANÇA INDÍGENA

Moqueca de Peixe: herança da nossa culinária indígena

Com uma variação aqui ou acolá, a moqueca de peixe tem origem na culinária indígena e é uma comida tradicional da cozinha brasileira.  As mais famosas são a capixaba e a baiana, sendo que a baiana tem temperos mais fortes e a presença do azeite de dendê, hábito adquirido com os africanos que para cá foram trazidos sob regime de escravidão, no período colonial…

Por Lúcia Resende 

moqueca
Moqueca capixaba servida em Anchieta, Espírito Santo / Wikimedia Commons, Vitor Jubini

A receita que trazemos nesta edição não é nem uma nem outra, mas toma de empréstimo uma e outra, acrescenta o açafrão goiano e ainda junta um tiquinho da Ásia, para acentuar o sabor. Como cheguei até ela? Experimentando, ora bolas! E, podem apostar, é uma delícia!

Fundamental: deve ser preparada em panela de barro.

Ingredientes

1 kg de surubim cortado em postas (ou outro peixe sem espinhas)

1,5 kg de tomates bem maduros cortados em cubos

2 cebolas médias cortadas em cubos

1 colher de sopa de azeite de dendê

1 vidro de leite de coco

1 pimentão verde cortado em lasquinhas

1 folha pequena de louro

1 colher de sobremesa rasa de açafrão

1 colher de chá de colorau

1 pitadinha de curry

1 pitada de açúcar

2 dentes de alho bem amassados

Sal, pimenta-do-reino, pimenta-de-cheiro e malagueta (opcional), coentro e cebolinha a gosto

Farinha de mandioca o quanto baste

Modo de fazer

  1. Lave bem as postas de peixe, passe uma água fervendo e escorra rapidamente. Em seguida, tempere com sal, um pouquinho do alho, pimenta-do-reino e de cheiro (opcional), um pouco da cebola e do pimentão. Reserve.
  2. Na panela de barro, coloque o azeite de dendê, doure bem o alho restante. A seguir, junte o louro, o açafrão e a cebola, mexendo e deixando refogar até ficar com aparência vitrificada. Na sequência, o curry, o colorau, o açúcar, os tomates e o sal. Deixe cozinhar até que os tomates estejam quase desmanchados. Aí, coloque o restante do pimentão e as postas de peixe – uma a uma –, mergulhando-as inteiramente no molho. Deixe ferver, prove e corrija o sal, se preciso. Com uma concha, vá retirando o excesso de caldo e colocando em outra panela (de barro, se possível), para fazer o pirão. Quando o peixe estiver cozido, acrescente o leite de coco (reservando um pouco para o pirão), incorpore e polvilhe com coentro e cebolinha. Sirva bem quente, com arroz branco e pirão.

Pirão

Para o pirão, basta usar o caldo retirado durante o cozimento (se preciso, para aumentar, pode-se acrescentar um pouco de água, lembrando de conferir o sal), acrescentar leite de coco, pimenta-malagueta, coentro, cebolinha, e engrossar com farinha de mandioca, deixando cozinhar por cerca de 5 minutos.

Lúcia Resende – Quituteira.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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