MARCO TEMPORAL E AGRONEGÓCIO TORNAM TERRAS INDÍGENAS ZONAS DE GUERRA

MARCO TEMPORAL E AGRONEGÓCIO TORNAM TERRAS INDÍGENAS ZONAS DE GUERRA

MARCO TEMPORAL E AGRONEGÓCIO TORNAM TERRAS INDÍGENAS ZONAS DE GUERRA

O avanço da tese do marco temporal e do agronegócio sobre territórios tradicionais tem transformado as terras indígenas em zonas de conflito. “Milícias de grupos armados fazem emboscada e atacam. É como uma zona de guerra”, compara a antropóloga Lúcia Helena Rangel, assessora do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). 

O Cimi lançou, em 28 de julho, o Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil, que revelou o assassinato de 211 indígenas em 2023. Diante dos números, Rangel denuncia a permanência de práticas brutais contra os povos originários em todo o país. 

“Nós tivemos, no ano passado, dois casos de dois meninos que foram marcados a ferro, como se fossem escravos. É um grau de maldade que não anda pra frente. Em vez de melhorar, não melhora”, lamenta. A declaração foi dada em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.

A antropóloga aponta o agronegócio como principal vetor da violência, especialmente em estados como Roraima, Amazonas e Mato Grosso do Sul. “O agronegócio é o principal instigador dessas invasões de terra, como se precisasse de mais terra. Tem milhões e milhões de hectares plantados. E o alvo é a terra indígena, que não é respeitada por ninguém”, afirma.

MARCO TEMPORAL: “FICÇÃO PARA A OCUPAÇÃO DE TERCEIROS”

A aprovação da Lei 14.701, que institui o marco temporal, também é questionada. “Esse marco não existe. Qual é o marco? É 1500, então? Não tem. É uma ficção criada para abrir mais as terras indígenas à ocupação de terceiros”, denuncia, citando o início do período pré-colonial, quando houve o primeiro contato entre colonizadores e indígenas no país. 

Para Rangel, a medida não reduziu conflitos; ao contrário, intensificou as invasões armadas e o sofrimento. “Eles entram com caminhão, com trator, com máquinas bem violentas, e entram armados, atirando”, relata.

Segundo a antropóloga, a criação de uma câmara de conciliação pelo ministro Gilmar Mendes, no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF), apenas ampliou a insegurança. “Ela só serve para travar processos e facilitar ocupações. Parecia que ia melhorar, e piorou tudo, volta tudo para trás. A vontade política aqui no Brasil é para piorar, pra tirar direitos, pra maltratar, pra violar”, critica.

EXPLORAÇÃO ILIMITADA 

A situação também se agrava com o avanço do “PL da Devastação”, que pode abrir caminho para a mineração e exploração econômica em terras indígenas. “Essa lei abre as terras para exploração de tudo. O Brasil é rico em minérios, mas só explora. Quem ganha é quem vende. A população do entorno não vê benefício algum”, critica Rangel. A proposta foi aprovada no último dia 17.

O relatório do Cimi ainda chama atenção para os riscos crescentes enfrentados pelos povos indígenas isolados, com 119 registros apenas na Amazônia Legal. “Está cada vez mais difícil manter qualquer forma de proteção. Essas terras estão sendo exploradas de forma desordenada, com foco em ganhos imediatos”, aponta a antropóloga.

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Foto: Fabio Rodrigues/Agência Brasil.

Fonte: Brasil de Fato via Bancários – DF.  Capa: APIB/Divulgação.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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