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A ponte que liga a História Social

A ponte que liga a História Social 

O tempo não constrói pontes. Quem constrói ponte é o homem, que está no tempo. O tempo não é nem velho e nem mesmo novo, ele é agora. Este momento é um tempo no qual estou vivendo. Mas este instante não seria outro, visto que vivo no presente e não no passado ou no futuro.

Por Padre Joacir D´Abadia 

Posso até viver, e vivo do passado, porém, do passado é impossível alguém voltar.  Também não é difícil fazer menção ao futuro, no entanto, estar no futuro é algo completamente impossível, ao passo que chegar em um futuro que foi por mim “estabelecido” ele já se me é presente. O homem, todavia, vive no presente.

A ponte é esta engenhosidade que liga uma extremidade à outra. Ela pode ser -na memória – uma ideia que liga o homem ao seu passado.  Assim sendo, o homem se comunica com sua história. E pode reviver bons momentos do passado. O que não acontece é retomar ao tempo no qual já se viveu.

A história é, pois, uma ponte que está na memória de cada pessoa, possibilitando-a  reviver acontecimentos inusitados em um tempo determinado, com pessoas e coisas.  Daqui se observa que não se tem uma história sem  o contato com toda a realidade circundante.  Por isso nunca estamos sós.  Existimos sempre em contato “com”.  Estamos em contato com o tempo, com nós mesmos, com nossa história, com as coisas que existe e, principalmente, estamos em contato com o Oculto.

O tempo não destrói o meu tempo. Ele destrói-me porque tenho um tempo muito breve nele. Eu, antes não estava nesta realidade marcada pelo tempo,  agora, sou parte desse que já estava bem antes da minha existência, e outro dia não serei mais desse tempo, que me abarcou quando comecei a existir.

Contudo, o que acontecerá com o tempo depois que dele eu sair? Ele vai continuar tal e qual é. Assim, comigo ou sem minha existência, o tempo continua inalterado, mas eu sem o meu tempo não sou.

Quando uma pessoa morre, pode-se dizer que ela não tem mais o seu tempo, ela saiu desta realidade temporal, ou seja, marcada pelo tempo. Uma pessoa que morre constrói história? Sim. Mas não uma história que a possibilite reviver momentos passados (ela já saiu desta realidade temporal). A história que e faz é uma história na vida de  uma outra pessoa. Esta revive o tempo daquela pessoa que morreu através de uma obra, fato, acontecimento, ou outros meios.

A história de cada pessoa é construída por ela mesma. A pessoa é autora de sua história. Ela faz história estando inserida no percurso da história universal, ou seja,  da história social. A história que a pessoa realiza na vida é uma realidade sua. Porém, na história social, a pessoa não é autora de sua história. Isso porque os processos pelos quais a pessoa passa na história social  é, para ela, muitas vezes um percurso inconsciente. Desta forma, a  pessoa não tem consciência – de início- da história social na qual está inserida, visto que há realidades da nossa história que fogem ao nosso controle, a saber: o país, a cultura, a família, a classe social, o nome, o sexo, a religião, etc.

É notório aqui que a pessoa é autora de sua história, mas não de sua história social. A história de cada pessoa é a ponte que liga a história social. Assim, com efeito, pela história social  a pessoa percebe que está num tempo, mas é livre para determinar o tempo de seu tempo.

Raial 20out3

 

 

 

 

 

 

Padre Joacir Soares D´Abadia – Pároco de Alto Paraíso de Goiás. Filósofo. Escritor. Articulista e Especialista em Docência do Ensino Superior.  Membro da Academia de Letras e Artes do Nordeste Goiano – Alaneg, e da Casa do  Poeta Brasileiro – Seção Formosa. As imagens são artista Lucio Kansuet.

NOTA DA REDAÇÃO: A Revista Xapuri não endossa, necessariamente, as opiniões do Padre. 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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