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CineBaru na Vila de Sagarana

CineBaru na Vila de Sagarana

Por Eduardo Pereira

A Vila de Sagarana, aqui nos sertões das Gerais, é um desses lugares mágicos que nunca saem do imaginário e do coração da gente. Como neste setembro teve o  CineBaru (3ª Edição), pensei escrever sobre os encantos desta Vila de sonhos.  Pesquisando aqui e acolá, encontrei na página do Festival Sagarana (https://festivalsagarana.wordpress.com/a-vila-de-sagarana/) esta tradução incrível do ambiente apaixonante de Sagarana, definitivamente um daqueles textos que eu gostaria de ter escrito. Então, montando no cavalo selado, como dizem por lá, aí vai, pra você, um pouco da lindeza da Vila de Sagarana.

A VILA DE SAGARANA

Baru torrado na mesa da cozinha, lua dourada, pés de pequi apinhados de flores, pôr-do-sol vermelho-fogo, noite com cheiro doce de jasmim-manga, conversas entre os cachorros donos da rua. No cerrado sertão do Vale do Rio Urucuia encontramos a Vila de Sagarana, pequeno distrito de Arinos (MG) cheio de histórias fiadas e recontadas.

A pequena vila está a 700 km de Belo Horizonte e a 240 km de Brasília. Fruto da luta social, foi o segundo Assentamento da Reforma Agrária implantado pelo Incra em Minas Gerais, em 1973.

O nascimento de Sagarana celebra o fim da perversa saga do coronelismo e o início da quebra da estrutura fundiária na região. Um território que abarca importantes ações em direção ao sustentável e a pesquisas em tecnologias sociais no Cerrado.

Somado a isso, o imaginário dos escritos de João Guimarães Rosa, marcado no próprio nome da Vila, sublinha a realidade das prosas, causos e ensinamentos de mestres e mestras desse jeito de ser “Feito Rosa para o Sertão”.

Cerca de 500 pessoas habitam o povoado e se sustentam, principalmente, da pecuária leiteira, agricultura familiar e extrativismo de frutos do Cerrado, como o baru e o pequi. Em Sagarana, encontramos mantidos modos de , saberes e ofícios tradicionais: quitandeiras e doceiras, benzedeiras, raizeiras, vaqueiros, fiandeiras, tecelãs, a lida campesina, Folias de Reis, apicultura, artesanatos com bambu e lutihieria de violas e violões.

O termo Sagarana foi criado por Guimarães Rosa e contêm expressão do regionalismo típico da região, definidor da identidade e das do povo mineiro. Significa a ligação do homem com a sua e cultura, sem perder os vínculos com a universalidade própria do ser humano.

“Sagarana” é a união do radical germânico Saga – que significa narrativa épica em prosa ou com acontecimentos marcantes ou heróicos – com rana, de origem tupi, que quer dizer “à maneira de”, “típico ou próprio de”. Em Sagarana, Cultura e Ruralidades caminham juntas.

CINEBARU

A terceira edição do CineBaru – Mostra Sagarana de Cinema  aconteceu entre os dias 12 e 14 de setembro de 2019, na vila de Sagarana, distrito do município de Arinos, no sertão de Minas Gerais.

A mostra promoveu uma imersão no sertão enquanto local de encontro, fomentando a formação de uma rede de cinema na agenda de festivais nacionais. Com isso, cumpriu-se o intuito de fortalecer os grupos que realizam, moram, produzem e pesquisam nos estados da Bahia, , Minas Gerais e no Distrito Federal.

A convivência cultural, social, política e artística por meio da produção e exibição de filmes inaugura um olhar sensível nesse ambiente audiovisual. Fazer, exibir e viver cinema no sertão mineiro in loco, compartilhando de dentro para fora e no seu avesso inquietações, vivências, saberes e valores foram objetivos plenamente cumpridos nesta edição do CineBaru.

Buscando somar ao movimento de combate às desigualdades ainda profundamente enraizadas em nossa , bem como dentro da produção cinematográfica nacional, o CineBaru tem como diretriz a promoção de filmes dirigidos ou protagonizados por mulheres, negras e negros, e LGBTQIA+.

Cada vez mais, a Mostra Sagarana de Cinema se consolida no calendário cultural de todo o noroeste do estado de Minas Gerais, sendo atualmente a maior mostra de cinema independente dessa região, dialogando com as fronteiras do sertão e viabilizando um alcance de público em Goiás, Bahia e em especial no Distrito Federal.

Na terceira edição, a Mostra chegou a quase 100 filmes exibidos e cerca de 400 inscritos desde 2017. A edição deste ano 2019 recebeu 133 inscrições de curtas para a Mostra Competitiva Regional; a curadoria selecionou 27 filmes para a Mostra Competitiva, 1 para o especial de abertura e 3 filmes para o espaço Sertãozim.

CHEGANDO NA VILA

Importante você de saber que na Vila não existem bancos. Os comércios não aceitam cartões, portanto, leve seu dinheiro! A única rede de telefonia que atende a região é a Vivo. Também não há hotéis. Existe um circuito de hospedagem comunitária. Alguns endereços: Hospedaria Cresertão – André (38) 99972-3204. Casa da Gasparina – (38) 9 9939 0533. Casa da Maria Cardoso e Sílvio – (38) 9 9995 8364. Casa da Lena e Dercílio – (38) 99808-6148. Casa da Miriam – (38) 99915-2088. Existem mercados e pequenos comerciantes que servem comida.  Você pode desfrutar também de toda a cordialidade sagaranense nos botecos da vila! Para saber mais sobre a mostra de cinema ou a estada em Sagarana, escreva para: cinebaru@gmail.com.

P.S. Ficamos na casa da Lena e do Dercílio. Foi uma experiência enriquecedora, maravilhosa!

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Eduardo Pereira – Sociólogo, com informações do CineBaru.

 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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