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Política e perseguição: irmãs siamesas

e perseguição: irmãs siamesas. Parece mentira, mas a perseguição política ainda persiste nos recônditos municípios do

Não basta ser , ter sido aprovado em concurso. Não basta ser gente honrada e trabalhadora.  Não basta, ainda, trazer uma luta de 500 e mais anos de transposição de enormes obstáculos. Os professores de de Goiás-Goiás, , são perseguidos pelo poder público municipal.

Trazemos, aqui,  relato dessas pessoas que foram perseguidas. Essa prática já deveria ter sido abolida da , mas é fato corriqueiro em pequenos municípios com baixo IDH e, resultado de uma estratégia desumana do exercício do poder e extrema prova de injustiça social.

Flores de Goiás, município imbricado no Nordeste Goiano, tem registro histórico de remanescentes negros que se deram à liberdade e escolheram o Vão do Paranã, bonito como ele só, para fazerem morada de esperança e recomeço. Por volta de 1600 chegaram, ali, povos escravizados e fugitivos das senzalas e das minas de ouro que ficavam entre os territórios baiano e mineiro.

Naquele sítio se estabeleceram e viveram por muito : produzindo, colhendo e partilhando de uma vida em comunidade. Depois chegaram  as caravanas de fazendeiros mitigados pelas secas que assolavam o território baiano. Nessas caravana vinham gente de todo feitio e cores: índios, mestiços, negros e brancos. A única característica que traziam em comum era a . Assim, viver em comunidade, no quilombo, era garantia de sobrevivência mais digna.  Em 1654  foi fundado, por um bandeirante, o primeiro Arraial “Flores”. Em 1740, em devoção a Nossa Senhora do Rosário dos Pretos foi construída a Igreja Nossa Senhora do Rosário e junto dela iniciou-se a tradição das primeiras festas de  Folias,  de caçada da rainha nos festejos.

O nome Flores de Goiás, de acordo com a afirmação de antigos moradores, deu-se em homenagem a uma espécie de flor nativa conhecida por  cebolinha do campo, que aparece exuberantemente logo nas primeiras chuvas de setembro para outubro deixando a região quilombola mais florida e perfumada.  A Vila foi emancipada em 1963. Hoje o município passa de 15 mil habitantes.

Nos últimos 30 anos acumularam-se vários erros administrativos, injustiças e dívidas que estagnaram o crescimento social e econômico da antes, próspera Flores de Goiás. A cidade tem sido vitimada pelas divisões partidárias e perseguições, praticadas pelos gestores a cada mandato, pelas panelas do poder. Um chega e desfaz o já realizado. Geralmente o que conta é ter apoiado o prefeito da ocasião. Vale para Flores de Goiás o jargão: aos amigos, tudo, aos inimigos, os rigores da lei.

Esse ano não foi diferente. O prefeito eleito se aproveitou do cargo e de seu poder para desmoralizar o edital e homologação de concurso público, realizado anteriormente, com  justificativa sobre a originalidade dos profissionais envolvidos e, também do déficit em áreas de zona rural. Que nada! Aproveitou foi para punir seus desafetos.  Mascarado pela boa intenção, dificultou a vida de professores e professoras quilombolas, expedindo portaria em que os lotou em escolas que ficam a mais de 100km de suas residências, que são na cidade. Alguns foram lotados a 140 Km de sua casa. Dizem que a perseguição ultrapassou os cargos da Secretaria de educação, mas essa é outra história.

Há mesmo déficit de professores no município de Flores de Goiás? Quantos estão gozando de licença por interesse particular? Quantos professores estão cedidos para exercício em outro município? Quantos professores concursados, posteriormente, aos removidos para a zona rural, que estão em efetivo exercício na zona urbana?

Dessa forma, em estradas de terra, de toá, esburacadas, fica difícil e desgastante a jornada desses profissionais da educação. O tempo gasto entre o ir e vir, as horas de sono tragadas pelo compromisso do horário a ser cumprido sobrecarrega a já tão pesada missão: ensinar. Estes professores e professoras já se encontram há muito tempo em sala de aula e já acumulam problemas normais da profissão: saúde física e mental comprometida, além do agravamento de problemas familiares, haja vista, que os citados não dispõem mais de tempo para que se dediquem aos filhos e cônjuges.

Para além dessas sujeições houve reunião onde os profissionais, na tentativa de reverter tal quadro opressor, tiveram de expor suas particularidades, sendo impingidos à humilhação diante do coletivo.  Houve indignação, choro e sofrimento.

Esses profissionais, quilombolas, mantém suas raízes ancestrais nos , inclusive destacamos o Quilombo Flores Velha. Entretanto, todos os que foram penalizados, contam com mais de 15 anos que estavam lotados na cidade e exercendo com zelo e primazia suas funções. Então não se justificaria essa remoção, com a pseudo proposta de que quilombolas devem trabalhar nos quilombos. 


O poder público municipal, para amenizar a situação, apresentou proposta de melhoria de salário, transporte e construção de alojamento na tentativa de convencê-los a trabalharem tão distante, desocupando suas cátedras para os apadrinhados. Tudo isso envolto numa mansa e macia de “boa intenção”.

Os professores e professoras de Flores de Goiás exigem respeito. Querem exercer sua profissão com dignidade e querem poder trabalhar nos locais em que estavam. Será pedir muito, Prefeito?

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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