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FORMOSA, A CIDADE DOS COQUEIROS

FORMOSA, A CIDADE DOS COQUEIROS

, a cidade dos coqueiros 

Formosa era a “cidade dos coqueiros”, como a definiam – Carmo Bernardes, por exemplo – que lá chegaram no início do século vinte…

Por Alfredo A. Saad

 Ao adentrar a cidade, o estranho não divisava casas brancas, ou barreadas, ou os telhados, ou coberturas de capim. O que se via eram coqueiros, às centenas, coqueiros xodó e indaiá, com as copas destacando-se acima das mangueiras.

Eram os anunciantes da existência de uma cidade próxima. Principalmente os coqueiros xodó, com seus fustes direitos e esguios.

Cada quintal possuía seus coqueiros xodó (macaúba), às dezenas. Mas, às vezes, eram os coqueiros indaiá que enfeitavam alguns recantos.

Nunca se soube se o extenso coqueiral de indaiá era nativo daquele recanto, que os primeiros habitantes escolheram para construir seus ranchos, ou se, nascidos, paulatinamente, a partir de sementes dos coqueirais da redondeza, dispersas, após roída a polpa espessa dos cocos pelo homem e por animais.

Além de utilizados na da população, mais tarde, os cocos passaram também a ser aproveitados para a fabricação de sabão. Os coqueiros indaiá, além dos cocos, forneciam as folhas para a cobertura dos ranchos de taipa.

Além disso, esses últimos apresentam uma característica singular: no tronco, acumulam-se nos restos de antigas folhas, a poeira soprada pelo vento, nutrientes que servem de substrato para enormes samambaias.

Quanto mais antigo o coqueiro, maiores e mais numerosas as frondes das pteridófitas, atualmente muito utilizadas para decoração.

Era costume do homem do campo conservar esses coqueiros, assim como os coqueiros xodó, quando derrubavam o mato para o plantio.

Mesmo sofrendo a ação do das queimadas tradicionais do interior do país, ainda hoje utilizadas, os indaiá e os xodó mostram boa capacidade de recuperação e voltam a produzir, após um ou dois anos.

Tanto uma quanto outra espécie eram utilizadas para a produção de óleo combustível para iluminação e para alimentação. O óleo dos cocos era utilizado nas candeias abertas, comuns na região de Couros.

Alfredo A. Saad – Escritor, em Álbum de Formosa – um ensaio de e mentalidades. Obra póstuma, publicada pela família em 2013.

 SOBRE O SURGIMENTO DO ARRAIAL DE COUROS

O surgimento do  (Formosa) é um verdadeiro mistério. Afirmam os historiadores que a data provável de sua criação teria sido em 1749, e que, diferentemente de diversas de Goiás, ele não foi criado tendo como objeto a exploração de ouro, mas sim a pecuária.

Historiadores como Paulo Bertram (2011) afirmam que a criação do Arraial dos Couros está mais ligada ao Arraial de Santo Antônio de Itiquira (extinto por ser um local insalubre):

Em Santo Antônio, muita gente morreu,  provavelmente em decorrência de febre amarela, e por isso seus moradores podem ter-se mudado para o Arraial dos Couros, que rapidamente se tornou um lugar destinado ao comércio, onde tropeiros passavam e faziam seus “pousos“.

Outra fonte, Queiros e Steingeber (2007), apud Chauvet (2005), defende a tese de que a formação de Formosa pode ter-se dado pela ocupação de  (escravos livres a partir da fuga) ou negros forros (com formalizada).

Contudo, a chegada do homem branco se deu com a posse das terras através das Cartas das Sesmarias, obtidas com o objetivo de estimular a lavoura de subsistência e a criação de gado.

Possivelmente, o primeiro sesmeiro do Arraial foi Manoel Barros Lima. Porém, há registros de que, mesmo antes do surgimento do Arraial, Manoel d’Almeida recebera duas licenças de Sesmaria.

FORMOSA, A CIDADE DOS COQUEIROS
Formosa Antiga – Foto: Municipal

De fato, a produção agrícola e pecuária trouxe grande prosperiadade para Formosa, pois as fazendas são empreendimentos muito mais duradouros do que o garimpo. Algumas dessas fazendas perduram até os dias de hoje.

Arraial dos Couros se transformou em Julgado em 12 de abril de 1834. Em 1843, o povoado passou a ser denominado Vila Formosa da Imperatriz, vindo a fazer parte da Comarca de Santa Cruz. Em 1877, foi elevado à categoria de cidade.

Por fim, tornou-se Formosa, sendo desmembrada do município de Planaltina no século XIX e de Cabeceiras de Goiás em 1958.

Fonte: “A Verdade sobre a Escravidão Negra – Relatório Final da Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra no Distrito Federal e Entorno”, págs.77, 78. Sindicato dos Bancários, , 2017.

Foto: Acervo Prefeitura Municipal

Notas da Redação Xapuri:

  1. O historiador formosense Samuel Lucas informa que a terminologia correta é “Arraial de Couros“. Fizemos a correção no título e mantivemos “dos Couros” no corpo do texto, por ser documento já publicado e de domínio público.
  2. O advogado formosense Heli Dourado questiona o processo de desmembramento de Formosa de Planaltina e Cabeceiras. Também, pelo texto fazer parte de livro publicado, mantemos a no formato original.
  3.  As fotos, do acervo municipal, são,  naturalmente, mais recentes e meramente ilustrativas. 
FORMOSA, A CIDADE DOS COQUEIROS
Formosa: Salto do Itiquira – Foto: Prefeitura Municipal de Formosa

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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