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A CARTA SEM DESTINATÁRIO

A CARTA SEM DESTINATÁRIO

A carta sem destinatário

O autor, através de uma metáfora em que usa a carta, nos leva a pensar sobre quest~es importantes: meio ambiente, religiosidade e novas culturas

Analisando o achado, logo se percebe que ali se encontra uma carta gasta pela intempérie da natureza como chuva e sol. Uma carta suja de lama seca. Toda amassada. Bem maltratada. No envelope havia várias folhas de diferentes modelos de guardanapos escritas à mão com caneta de cor preta e azul.

No primeiro bloco de seis guardanapos brancos escritos com caneta preta encontravam-se as inscrições impressas na cor rosa: “bom apetite!”. Logo abaixo vinha o desenho de um garfo, uma faca e uma colher seguida da segunda inscrição de consciência ambiental (meio dúbia): “Use papel, o mundo agradece”. O segundo guardanapo era mais simples. Apenas um guardanapo marrom escrito na frente e no verso com tinta preta, uma inscrição impressa de cor preta: “Churrascaria ‘Self Service’” – contendo, deste modo, o nome do estabelecimento com um “slogan” no qual constava o número do telefone e uma mídia social ladeada por uma frase bíblica, que pela forma de citar se percebia ser uma frase evangélica. E, no canto, bem discreto encontrava uma orientação ambiental: “jogue o lixo no lixo”. Por fim, no último bloco havia dois guardanapos brancos escritos com caneta azul. Apenas se podia ler o impresso: “contém guardanapo”.

Na carta, sem destinatário e sem assinatura, estava escrita uma história, na qual poderia muito bem perceber que escrever, ler e viajar ajuda muito a conhecer novas culturas! Contudo gostar destas viagens faz com que em cada uma delas possa sentir mais conhecedor do grande mistério que é o ser humano na sua incrível criatividade.

Eis a carta, acima.

Padre Joacir d’Abadia (WhatsApp 61 9 9931-5433), filósofo autor de 12 livros, Especialista em Docência do Ensino Universitário e membro da “Academia de Letras e Artes dos Nordeste Goiano” (ALANEG)

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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