A lenda do pé de garrafa
O Pé de Garrafa é um ente misterioso que vive nas matas e capoeiras. Não o veem ou o veem raríssimamente. Ouvem sempre seus gritos estrídulos ora amedrontadores ou tão familiares que os caçadores o procuram, certos de tratar-se de um companheiro transviado. E quanto mais rebuscam menos o grito lhes serve de guia, pois, multiplicado em todas as direções, atordoa, desvaira, enlouquece.
Por Luís da Câmara Cascudo
Os caçadores terminam perdidos ou voltam a casa depois de luta áspera para reencontrar a estrada habitual.
Sabem tratar-se do Pé de Garrafa porque este deixa sua passagem sinalada por um rastro redondo, profundo, lembrando perfeitamente um fundo de garrafa.
Supõem que o singular fantasma tenha as extremidades circulares, maciças, fixando vestígios inconfundíveis.
Vale Cabral, um dos primeiros a estudar o Pé de Garrafa, disse-o natural do Piauí, morando nas matas como o Caapora e devia ser de estatura invulgar, a deduzir-se da pegada enorme que ficava na areia ou no barro mole do massapé.
O Dr. Alípio de Miranda Ribeiro foi encontrar o Pé de Garrafa em Jacobina, no Mato Grosso. Seu informante, Sebastião Alves Correia, administrador da fazenda, fez uma descrição mais ou menos completa.
O Pé de Garrafa “tem a figura dum homem; é completamente cabeludo e só possui uma única perna, a qual termina em casco em forma de fundo de garrafa”. É uma variante do Mapinguari e do Capelobo. Grita, anda na mata e tem o rastro circular. Não há informação se o Pé de Garrafa mata para comer ou é inofensivo.
Luís da Câmara Cascudo – Dicionário do Folclore Brasileiro. Editora Global, 2000.