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A Retidão na Relação entre o “Eu” e o “Tu”

A Retidão na Relação entre o “Eu” e o “Tu”

Por Padre Joacir d’Abadia

Um jovem, deixa sua mão cair sobre o ventre de uma garota. Ambos estão deitados. O jovem em frenética sede de desejo pousa seu olhar sobre os olhos da garota e diz:

_ “Eis que estou no seu ventre deserto! No seu umbigo, esta cisterna rasa e sem água.

Estou morrendo de sede de desejos. Minha boca está : tenho sede! Porém, se subo deste deserto encontrarei suas , que são difíceis de ser escaladas e, visceralmente sem água. Tenho sede!

Por outro lado, caso eu desço, oh garota, encontrarei águas crisálidas. Saciarei minha sede. Que farei? Queres que eu vá morrer nas montanhas, sem água, ou queres que eu desça e sacio minha sede?”.

A garota sorri. Seus olhos brilham como o sol do meio dia. Logo fica séria e balbucia:

_ “Este meu ventre deserto é uma campina? Não. Que é então podes me indagar. Responderei que és um deserto propício para se iniciar uma busca de saciedade.

Queres cavar esta cisterna rasa e sem água? Claro que não! Até porque este deserto é o início da busca.

Mandar-te-ei para onde? Ah! Mandar-te-ei para onde tem água! As montanhas têm, sim, águas. Contudo, é necessário escala-las até seu cume, onde se encontra água para sua boca, visto que disse: ‘minha boca está seca: tenho sede!’. As montanhas querem saciar tua sede. Queres sacia-la?”.

O jovem com a mão sobre o ventre da garota, começou, com os dedos, apalpar aquele ventre deserto de forma a deslizar sua mão para cima e, com mais veemência, para baixo.

A garota pousa sua mão por sobre a mão do jovem e, apertando-a na dele, descreve:

_ “Que frenética sede é essa sua!”.

O jovem, quase que dissuadido, insisti:

_ “minha sede é de desejo. O que você fará por mim?”.

Sem que ferisse sua lealdade, a garota respondeu tirando sua mão de sobre à do jovem:

_ “beba!” _ com isso, entrega-lhe um coco d’água, o qual lhe servira como travesseiro _ e continuou: _ “Beba e sacia-te sua sede de desejo: é natural sentir sede! Beba, antes de estafar cavando, escalando ou descendo! Isso é o que farei por ti! Ou – em uma palavra-, posso lhe ajudar mais?”.

Angustiado, sem , o jovem retira sua mão do ventre deserto. Recebe o coco. Assim, acorda segurando uma botija d’água e com muita sede. Seu corpo estava molhado de suor. Enxerga uma obra sobre sua mesa com a inscrição: “A relação que se manifesta entre o eu e o tu é necessariamente uma relação que procede da ética. A relação interpessoal, refere-se, sem dúvida, a um agir ético. O agir que é suscitado, isto é, manifestado pela ética tem um sentido próprio que é, com efeito, a retidão na relação surgida tanto do eu como do tu” (d’ABADIA, 2005, p. 26), em suma.

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Joacir pb

Pe. Joacir S. d’Abadia, Pároco em Formosa,  

Filósofo autor de 9 livros, têm 4 obras publicadas no exterior; ganhou, em 2011, o Concurso Internacional de Filosofia da “Revista Digital Antorcha Cultural” da Argentina; escreve para vários Jornais: “Alô Vicentinos!”, “Folha Regional” e Revistas: “Vem Viver” e “Auê”; Bacharel em Filosofia  e Teologia pelo Seminário Maior Arquidiocesano de (SMAB, DF, 2006 e 2010); Bacharel em Filosofia pela Faculdade de Ciências da Bahia (FACIBA, BA, 2010); Licenciado em Filosofia pela Faculdade Católica de Anápolis (em conclusão); Especialista em Docência do Ensino Superior pela Faculdade Mário Shenberg (FMS, 2011) e membro do Conselho de “Pesquisas e Projetos” da UnB e da Casa do Poeta Brasileiro de Formosa-GO.

 



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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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