A terceira sombra
Na sombra, mesmo que se tenha o que existe, sempre lhe tornará um aprendiz do que realmente é. E, todavia, o que é uma sombra? A terceira. A sombra do terceiro homem era sumamente grande em um momento, já noutro tomava a distorção de um ser pequeno e disforme.
Por Pe. Joacir D’Abadia

Sumamente grande porque se achava na sua extrema descaracterização: não se encontrava consigo mesma. Na noite do silêncio onde oculta os olhos dos homens, ascende a maravilha que desfavorece o seu si. Duvidou. Porventura, não é duvidando que se testemunha a evidência do fato? De que o si não se encomenda ao si mesmo.
Era penalizada pela transformação repentina, não gozava de reverência de si mesma. Sua relação consigo, antecipava um destaque de excessivo cuidado por quão desprezível era. Defendia a sua circunstância: era sombra.
Assíduo na sua conclusão experimentava a pureza dos rogos, que ora batia à sua disposição. Frequentemente, se permitia não ser apenas o que era. Dependia para seu modo de ser: da luz e do calor. Porém, não lhe farejava alcançar à noite, pois esta, lhe impossibilitava por alguns instantes de ser.
Imponente, cheio de si, confiante, “altez” de suas ideias, de olhar transversal aos seus ditames, lá estava um malogro que caminhava com passos largos, firmes e com certa rapidez. Tendia-se para seu rumo, como se uma voz aguda lhe chamara. O zunido alto dava ao fato sua grande importância, um clamor à escutar com ações de aceitação, a resposta cabal bem esclarecida.
Não precisava impor a aceitação, ela ocupava desinteressadamente do fortalecimento do seu poder real de ser num outro. Não esgotava em se conjugar o seu aprisionamento em outro.
Suas noites eram esmagadoras, se perdia nelas. Representava sofrimento e consumação da sua plena entrega ao que de tudo condena seu aspecto de entregar- se a si. Quando ele próprio se conforma, seu existir ao incômodo do que ele quer para si mesmo.
Então, esvazia-se de si! É assombroso o que lhe carece. Falta o que é seu; seu pequeno tesouro: o si mesmo. Na vastidão do mundo nada consegue fazer com que seu existir esteja completo: falta tudo, o seu existir em si, pois é em si o si noutro. Isso o angustia e agita desde dentro: um dentro que nele é fora, ao passo que não tem o si.
Almeja, infinitamente o si de si. Deseja estar dentro e no seu si não tem o seu desejo, o seu querer, apenas o buscar do encher o vazio que anseia pelo preenchimento do si.
Desejava a si mesma e desde aquela agonia, leva em si o desejo de si ter a si mesma. Principalmente por não se ver em si, desconfia-se do seu “este”. Queria ser propriedade de si mesma, dona do seu “este”. Consagrar à origem, aderir ao instantâneo de si.
Ter a certeza de se abandonar em si e se achar livre para acolher sua entrega, seria como multiplicar o seu abandono: na serenidade da verdade que se busca e no otimismo que vai alcançar, a verdade recomeçando sempre, como se este começo nunca existira noutrora: renovar o novo e si ver em si, a terceira sombra.
Padre Joacir d’Abadia, Pároco da Paróquia São José Operário – Formosa-GO / Diocese de Formosa-GO.Filósofo, Escritor, Especialista em Docência do Ensino Superior, Bacharel e Licenciando em Filosofia, membro da “Academia de Letras e Artes do Nordeste Goiano” (ALANEG), da “Academia de Letras do Brasil – Seccional Planaltina-GO” (ALBPLGO) e da “Casa do Poeta Brasileiro”, autor de 12 livros. Contato: WhatsApp 61 9 9931-5433.