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Aborto legal

ABORTO LEGAL OU ILEGAL?

ABORTO LEGAL

OU ILEGAL?

O inadiável debate sobre o aborto não se refere à sua existência ou não. Há muito tempo que o aborto é uma realidade de fato, existe. Na Argentina, no debate realizado recentemente, se citou que um aborto é feito a cada um minuto e meio. A discussão é sobre se eles serão feitos de forma ilegal, nas piores condições possíveis, ou de forma legal, como um tema de saúde pública, com amparo e acompanhamento.

Como se sabe, o aborto é realizado em clínicas não legalizadas, mas com plenas condições, para pessoas que dispõem de recursos para sua realização. E, na grande maioria dos casos, de forma clandestina, em péssimas condições, provocando danos na pessoa que o faz ou até mesmo com uma quantidade grande de mortes.

Não se trata de um tema religioso, mas de um tema de saúde pública. As próprias Nações Unidas assim caracterizaram a questão: como de saúde pública. Ninguém será obrigado a fazer aborto. É uma decisão individual. Mas cabe ao Estado propiciar as condições básicas de atendimento para quem decidir apelar para ele.

O aborto é um dos maiores exemplos da hipocrisia de muitos setores da sociedade, que dizem uma coisa e fazem outra. Quantas famílias de classe média e da própria burguesia não praticam aborto, mas não o assumem e, pior ainda, negam aos outros setores sociais, a possibilidade de apelar para essa alternativa extrema, em condições de mínima segurança? O aborto é uma das maiores causas de morte precoce de jovens, que o praticam, em desespero, em péssimas condições. Além de ser uma das maiores causas de danos graves e permanentes na saúde dessas jovens, para o resto das suas vidas.

A América Latina e o Caribe são a região no mundo onde há mais restrições para a prática legal do aborto. 97% das mulheres do continente vivem sob regras que proíbem ou restringem amplamente o aborto legal. Somente quatro países latino-americanos e caribenhos não proíbem essa prática legal: Cuba, Uruguai, Porto Rico e Guiana. No mundo, 60% das mulheres vivem em 74 países em que o aborto é permitido sem restrições e com amparo das instituições de saúde pública.

A luta pelo direito ao aborto surgiu no marco do surgimento do movimento feminista e fazia parte da reivindicação das mulheres disporem do seu próprio corpo. No governo Reagan, se fomentou uma contraofensiva conservadora sobre o tema, buscando assumir a defesa do feto como se fosse defesa da vida e acusando os defensores dos direitos ao aborto de assassinos. Consultórios de médicos que praticavam o aborto foram atacados.

O aborto é uma realidade diária nas nossas sociedades. A decisão de legalizá-lo é terminar com a hipocrisia que finge desconhecer o fenômeno e o pratica de forma ilegal. Do que se trata é de levar a cabo uma ampla discussão, para garantir a legalidade e o apoio público e tirar o aborto da ilegalidade.

Emir SaderEmir Sader
Sociólogo
Autor do livro “O Brasil que
queremos

Block

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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