ALHOS E BUGALHOS

ALHOS E BUGALHOS

ALHOS E BUGALHOS

A ocupação dos espaços de mobilidade das cidades brasileiras geralmente reflete o grave litígio social que permeia a rotina de suas populações, sempre com desfechos desfavoráveis aos mais frágeis do sistema trânsito/transporte: os que se deslocam a pé, de bicicleta e de ônibus – via de regra os mais pobres

Por Antenor Pinheiro, especial de Londres, Inglaterra

A despeito da legislação dispor de mecanismos de equidade que garantem a mitigação da contenda cotidiana é esta a realidade – dinâmica inerente às sociedades de classes. Mas nesse contexto, o que chama a atenção é o cinismo contido nas motivações de quem decide a política pública.

Veja-se o caso do novo burgomes- tre de Goiânia. Em ação midiática e espalhafatosa, autorizou o uso das faixas preferenciais de trânsito dos ônibus para motocicletas, onde quem se fode novamente é a porção mais frágil de todas: o cliente do ônibus, o ciclista, o pedestre e a pessoa com deficiência (PCD) – o lado tradicionalmente excluído do sistema brasileiro. A justificação enganadora é que em Londres esta política funciona. Bizarra premissa, longe de significar ignorância, é desejo de classe, prestígio para as minorias que detém o poder sobre o solo e os fenômenos sociais dele decorrentes.

É confundir propositadamente alhos com bugalhos! A falsa equivalência contida na essência desta medida sugere que o comportamento de motociclistas, a infraestrutura viária, o planejamento urbano e a fiscalização de trânsito em Londres são similares ao que vivem os moradores de Goiânia. Embuste político que chama!

Alhos e Bugalhos scaled ALHOS E BUGALHOS

antenor pinheiroAntenor Pinheiro – Geógrafo. Membro do Conselho Editorial da Revista Xapuri.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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