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ANTA: ESPÉCIE “SENTINELA” INDICADORA DE RISCOS PARA O CERRADO

ANTA: ESPÉCIE “SENTINELA” INDICADORA DE RISCOS PARA O CERRADO

A anta-brasileira (Tapirus terrestris), conhecida simplesmente como anta ou tapir, é o maior mamífero terrestre do Brasil e o segundo da América Latina

Pesa cerca de 300 kg e chega a alcançar 240 cm de comprimento. Ocorre em áreas de floresta e em campos abertos, sempre perto dos cursos de água, desde o sul da Venezuela até o norte da Argentina.

Frugívora, a anta é um animal importante para a manutenção dos ecossistemas onde vive e cumpre papel fundamental na dispersão de sementes e na conexão entre diferentes habitats, em especial com o Cerrado, um dos biomas mais ameaçados do Brasil.

Listada como vulnerável pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), a anta vive solitária em territórios de cerca de 5 km² de área, por cerca de 35 anos, em média. De reprodução lenta, com uma gestação que pode durar mais de 400 dias, a fêmea só pare um filhote por vez.

No Brasil, a anta já desapareceu da Caatinga e encontra-se em situação crítica nas regiões remanescentes de Mata Atlântica. Um estudo do IPÊ (www.ipe.org.br), realizado pela Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (INCAB), divulgado em outubro de 2018, revelou que as antas estão sofrendo sérios riscos de saúde na região do Cerrado do Mato Grosso do Sul (MS), sobretudo pelo uso de agrotóxicos e pela contaminação ambiental das áreas onde vivem.

INCAB tapir
De acordo com a Incab, a maioria das antas amostradas no estudo anterior, realizado entre 2015 e 2017, eram animais mortos em acidentes rodoviários ao longo de 34 rodovias no estado de Mato Grosso do Sul. Imagem cedida pela Incab/IPÊ

O estudo apresenta o animal como uma ‘espécie sentinela’, capaz de demonstrar os riscos presentes no meio ambiente, onde também vivem outras espécies da fauna, animais domésticos e comunidades rurais. Além das pesquisas sobre o impacto dos agrotóxicos na espécie, os pesquisadores também monitoram o atropelamento de antas nas rodovias do MS, fazem estudos de ecologia e uso da paisagem, e colhem dados sobre a saúde e a genética dos tapires.

Os resultados de todas essas análises são utilizados para desenvolver estratégias de redução das ameaças que atingem não somente a Tapirus terrestris, mas todo o ambiente e todas as formas de vida que nele habitam, incluindo a vida humana.

Capa: Incab/IPÊ

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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