Quem estuprou, torturou e matou a menina Araceli?
O crime emblemático fez o Congresso Nacional instituir o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes no dia 18 de maio.
Por: Marie Declercq
De 1964 a 1985, torturas, mortes e desaparecimentos dignos de serial killers de pessoas consideradas subversivas para o Estado eram autorizados pelo alto comando das Forças Armadas.
Segundo o relatório final da Comissão Nacional da Verdade, divulgado em 2014, o número total de mortos e desaparecidos durante os 25 anos de regime militar é de 434 pessoas. Dentro desse período, centenas de pessoas foram submetidas a sessões intermináveis de tortura e dentre as várias modalidades se destacam o pau-de-arara (uma barra de metal atravessada entre os punhos e as pernas amarradas da pessoa, deixando ela pendurada para receber porradas), choques elétricos pelo corpo, estupros, afogamentos e tortura psicológica, praticados por cerca de 377 agentes da repressão
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Essa violência era autorizada pelo Estado como um instrumento de poder e de preservação do governo. Os filhos dos que eram perseguidos, crianças na época, também foram torturados. Ainda constam 210 desaparecidos. Na Vala de Perus, localizada no cemitério Dom Bosco em São Paulo, foram encontradas mais de mil ossadas de indigentes, perseguidos políticos e vítimas de esquadrões da morte — até hoje a maioria segue sem identificação por conta da influência do tempo e da natureza. Também estima-se que oito mil indígenas foram mortos pelo regime, sob a desculpa de serem um atraso para o desenvolvimento da nação.
O Caso Araceli
Araceli Cabrera Sanchez Crespo nasceu em 2 de julho de 1964 e teve sua vida abruptamente tomada entre os dias 18 e 24 de maio de 1973 em Vitória, capital de Espírito Santo. A menina de oito anos foi estuprada sob efeito de barbitúricos e seu corpo foi desovado em um matagal. Os principais suspeitos do caso foram absolvidos e a história da morte de Araceli permanece um mistério até hoje. O crime emblemático fez o Congresso Nacional instituir o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes no dia 18 de maio.
Quando a menina não apareceu em casa dentro do horário combinado, os pais de Araceli foram até a polícia comunicar o desaparecimento. No entanto, as autoridades afirmaram que não poderiam fazer nada até segunda-feira. Então, por conta própria, ambos começaram a procurar a filha pela cidade. Achando que se trava de um sequestro, levaram a foto da filha para os jornais locais. Já na segunda-feira, a polícia iniciou as buscas oficiais e o caso foi atraindo a curiosidade da população capixaba.
Mesmo 40 anos após o ocorrido, as fotos em preto e branco da criança sendo retirado da mata ainda causam desconforto. Nos registros, alguns policiais retiram partes do pequeno corpo em uma maca onde a única coisa reconhecível são as madeixas longas de Araceli. Ela foi encontrada em um estado de decomposição avançado e já devorada por animais da região, a ponto da perícia ter de recorrer a peneiras de garimpo para encontrar dentes e outras partes corporais no meio da terra.
As investigações, os fatos e provas testemunhais foram contaminados por boatos na cidade. No entanto, na denúncia do promotor Wolmar Bermudes, três suspeitos foram identificados: Paulo Constanteen Helal, de 27 anos, Dante Barros Michelini, 53, e Dante Filho, 23, conhecido como “Dantinho”. Todos os suspeitos eram membros de famílias tradicionais do Espírito Santo.
Teve de tudo durante o inquérito, desde denúncias de subornos a policiais, álibis forjados e até morte de testemunhas e envolvidos. São eles: o jovem de 17 anos Fortunato Piccin, Jorge Michelini, o sargento e agente do serviço de inteligência da PM José Homero Dias e o traficante José Paulo dos Santos, conhecido como “Paulinho Boca Negra”.
Piccin morreu no mesmo dia em que o corpo de Araceli foi encontrado no matagal, supostamente de malária. Seu nome pipocou nas investigações quando a defesa de Dante apareceu na polícia com um pedaço de tecido que supostamente pertencia à saia de Araceli e fora desenterrado no quintal da casa de Piccin. O pai do garoto chegou a dizer para a imprensa que nunca suspeitou de nada do filho até ser chamado pelo delegado da Polícia Federal, Lincoln Almeida, afirmando que estavam tentando empurrar a autoria da morte da menina para inocentar Dante, Dantinho e Paulo. As acusações contra Piccin foram consideradas uma tática de confundir o trabalho policial na época.
Depois veio a morte do sargento da Polícia Militar José Homero Dias. Homero participava das investigações da morte da menina. Ele foi morto após receber a ordem de prender José Paulo dos Santos, um traficante conhecido de Vitória, chamado de “Paulinho Boca Negra” e seu comparsa identificado pela imprensa como “Capetinha”. Supostamente, os dois criminosos foram apontados como autores da morte, porém o próprio Homero acreditava que quem falava mais alto na investigação era o dinheiro e não a verdade. Ele foi executado com um tiro nas costas.
Em 1977, o caso finalmente foi levado à justiça comum. Por ter sido enquadrado como um sequestro que acabou em morte, a competência do caso ficou para o juiz criminal Hilton Silly, e não para o Tribunal do Júri. Centenas de pessoas compareceram ao fórum de Vitória para acompanhar o julgamento e os interrogatórios dos três acusados. Silly acatou a tese da acusação e se disse convencido de que estava provada a materialidade e a autoria do crime. Condenou Dantinho e Helal a 18 anos de prisão e Dante a 5 anos, além do pagamento de 18 mil cruzeiros de multa.
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