Barcarena, Hydro, Mineração, Amazônia: Acidente nunca mais?
A Albras é a oitava maior fábrica de alumínio do mundo e a primeira do continente. É a maior consumidora de energia do país, com o dobro do consumo da segunda colocada. Absorve 1,5% de toda geração de energia do Brasil. Ao seu lado, no distrito industrial de Barcarena, a 50 quilômetros de Belém, no Pará, está a Alunorte, a maior fábrica de alumina do mundo, que se abastece de bauxita, o minério que está na origem da cadeia produtiva, numa das maiores jazidas do mundo, distante menos de 300 quilômetros.
Com essas três unidades de produção, a Hydro, empresa controlada pelo governo norueguês, em associação com um consórcio japonês, faturou no ano passado quase 8 bilhões de reais. O valor equivale a um terço do orçamento de 2019 do Pará, o 2º maior em extensão territorial e o 9º em população do Brasil, com mais de oito milhões de habitantes.
O faturamento da Hydro poderia ultrapassar R$ 12 bilhões, colocando-a no topo do ranking nacional, se em abril do ano passado ela não tivesse reduzido à metade a sua produção. A redução foi imposta pela justiça federal, atendendo demandas dos ministérios públicos – federal e estadual.
Eles acusaram a empresa de ter provocado um acidente ambiental grave, que teria resultado em contaminação dos cursos d’água da região por lama vermelha, o rejeito da lavagem de minério com produtos químicos, principalmente soda cáustica. A poluição atingiu os moradores.
Em 12 horas, entre os dias 16 e 17 de fevereiro do ano passado, uma forte chuva atingiu mais de 231 milímetros, provocando inundações. Moradores locais constataram a súbita mudança na coloração da água dos rios e igarapés, que se tornaram avermelhadas, denunciando o fato às autoridades.A empresa alegou que mais de 90 vistorias, promovidas por 13 órgãos governamentais (federais, estaduais e municipais), entre fevereiro e maio de 2018, não detectaram “qualquer sinal de transbordamento” dos seus dois depósitos de rejeitos sólidos.
Mesmo assim, recebeu 13 autos de infração e 91 notificações, que a levaram a assinar um Termo de Ajustamento de Conduta, no valor de 250 milhões de reais.No dia 21 deste mês, autorizada pela justiça federal, começou a retomar a produção normal, com previsão de atingir a plena capacidade de produção em meados do segundo semestre. A Hydro vai acelerar ao máximo essa recuperação.
Com a redução da produção, a Alunorte saiu de um lucro de R$ 633 milhões em 2017 para um prejuízo de R$ 164 milhões no ano passado. Seu faturamento baixou de R$ 5,5 bilhões para R$ 4,1 bilhões, graças ao melhor preço do produto. A valorização do alumínio, de 31%, fez com que a receita da Albras (de R$ 2,8 bilhões) fosse apenas 9% inferior à de 2017, preservando lucro de R$ 126 milhões. O lucro da Mineração Paragominas diminuiu de R$ 159 milhões para R$ 68 milhões no período, com decréscimo do faturamento de R$ 1,2 bilhão para pouco menos de R$ 890 milhões.
Desde 2010, quando sucedeu a ex-estatal Companhia Vale do Rio Doce, em 2010, a norueguesa Hydro passou a controlar um dos mais importantes polos integrados de alumínio do mundo.
Até então, ela atuava apenas a partir do beneficiamento do metal primário. Com o fechamento de toda cadeia produtiva, se tornou uma das maiores do setor. O acidente do ano passado e o embargo judicial que se seguiu abalaram o seu conceito, agravado pela preocupação do governo norueguês de se apresentar como um defensor do meio ambiente.